A família da diversidade

Por que o seriado “Modern family” faz sucesso

A certo ponto do Emmy Awards 2011, premiação mais importante da televisão americana que ocorreu no dia 18, a apresentadora do evento, a atriz Jane Lynch, do seriado Glee, disse: “Bem-vindos de volta ao prêmio ‘Modern Family’!”. A piada não significava nenhum exagero. Os quatro primeiros troféus entregues naquela noite foram para a equipe do seriado, muitos deles com mais de um membro da equipe concorrendo na mesma categoria. Ao todo, foram cinco Emmys para Modern family, coroando o programa como maior vencedor do prêmio pela segunda vez consecutiva. Em 2010, foram seis troféus. Neste ano, entre as séries de comédia, Modern family venceu em Direção, Roteiro, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante e Melhor Série, prêmio que encerrou o Emmy.

Tudo isso ganha ainda mais peso quando se leva em conta que Modern family é uma atração bastante jovem. Ela está apenas em sua terceira temporada, que estreou nos Estados Unidos na semana passada. No Brasil, vai ao ar no canal Fox e está quase no fim do segundo ano. Seu sucesso foi arrebatador desde o início. A primeira temporada perdeu por pouco em audiência para Glee, outra comédia popular. Na segunda, deixou a concorrente para trás, com 11,9 milhões de espectadores, em comparação com 10,1 milhões de Glee.

O sucesso de Modern family está na capacidade de seus criadores em atualizar os temas e o estilo de filmagem de um dos gêneros mais tradicionais de programa televisivo: o seriado que trata dos conflitos de uma família tradicional americana. “TV e família estão conectadas desde que a televisão apareceu”, diz Esther Hamburger, professora do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Universidade de São Paulo (USP). “A televisão entra no espaço doméstico. Então é natural que ele esteja representado nos programas.”

Mas, nos últimos anos, o desafio de encenar uma família aumentou. O maior problema dos roteiristas é encontrar uma maneira de conjugar os diversos estilos de vida atuais em um mesmo núcleo familiar. Assim, nasceram programas que tratavam de famílias com personagens em situações peculiares, como a tríade masculina de Two and a half men, a viúva traficante de maconha de Weeds e a vidente de Medium (leia sobre outras séries no quadro ao lado). A solução de Modern family foi abraçar toda essa diversidade. Em cada capítulo de 22 minutos da série, acompanhamos três famílias interligadas: um casal de gays e sua filhinha vietnamita adotada, um avô casado pela segunda vez com uma jovem colombiana, mãe de um adolescente, e um casal com três filhos. A ideia de Modern family é que a nova família tradicional americana é justamente uma combinação de todas essas situações. Esses personagens não são marginais à trama. Eles fazem parte do núcleo das famílias.

Apesar da nova composição familiar, os personagens ainda são enquadrados em estereótipos, em nome do humor. Um dos personagens da série conjuga dois deles: o homossexual e o gordinho. A mãe latina também inspira brincadeiras. Carrega tudo o que os americanos associam à América Latina: sotaque esquisito, violência, sensualidade e emotividade.

Para compensar, o programa se esmera em referências a situações e tecnologias próprias de nosso tempo. Celulares e computadores estão sempre em evidência, ajudando também a compor os personagens. Ao longo dos episódios, fornecem um bom argumento para fazer graça das dificuldades dos mais velhos, bem menos versados na linguagem tecnológica que os mais jovens.

O seriado é apresentado como se fosse um documentário. O estilo ficou popular com a série The office. A filmagem e a edição copiam o estilo dos documentários, com câmeras que parecem observar a família dentro de casa e entrevistas individuais com os personagens comentando situações que acabam de acontecer na tela. A direção e as confissões dos personagens criam novas oportunidades para o riso, que em Modern family costuma ser fácil e inofensivo. “Na série, os conflitos sempre são resolvidos de maneira positiva”, diz a crítica de televisão Patrícia Kogut. Nada melhor para fazer uma família feliz – tanto a da série quanto a do público.

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