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A metade dos torcedores ouvidos disse já ter escutado ofensas homofóbicas durante partidas.
Uma pesquisa inédita concluiu que 82% dos torcedores britânicos de vários esportes não veriam problema se uma pessoa do seu time do coração saísse do armário. Uma minoria, 8%, afirmou que pararia de acompanhar a equipe se isso ocorresse.
O levantamento revelou também que 71% dos fãs de futebol disseram que os clubes deveriam trabalhar mais para educar seus apoiadores sobre homofobia.
A metade dos torcedores ouvidos disse já ter escutado ofensas homofóbicas durante partidas.
Mais de 4.000 pessoas responderam à pesquisa, realizada por meio de um questionário on-line pelo instituto ComRes, sob a encomenda da BBC Radio 5 –do total de participantes, 2.896 eram torcedores.
Tabu
No Brasil, nenhum jogador de uma equipe de renome de futebol já saiu do armário –e a homofobia em torno do assunto é forte.
Justin Fashanu se tornou o primeiro jogador a se declarar LGBT na Inglaterra, em 1990 –ele acabou tirando a própria vida em 1998, quando tinha 38 anos.
Desde então, nenhum jogador de futebol em atividade se declarou LGBT no país.
Thomas Hitzlsperger, ex-jogador da seleção alemã, tornou-se o primeiro jogador com experiência na Premier League, a primeira divisão do futebol inglês, a revelar sua orientação sexual publicamente, mas isso ocorreu após ele ter encerrado sua participação na liga, em janeiro de 2014.
Robbie Rogers, ex-Leeds, também revelou ser gay ao anunciar a sua aposentadoria. Ele voltou a jogar pelo LA Galaxy, nos Estados Unidos.
Com Casey Stoney, da seleção feminina da Inglaterra, foi diferente: ela declarou ser lésbica em 2014, ainda em atividade.
Números
Ampla, a pesquisa ouviu torcedores de 11 esportes diferentes, além do futebol. Segundo os resultados:
– Mais torcedores (12%) ficariam descontentes se um jogador do time rival fosse para o seu time do que se um jogador de sua equipe revelasse ser LGBT (8%).
– 7% parariam de assistir a jogos dos seus times se estes contratassem um jogador LGBT.
– 57% acreditam que jogadores LGBTs deveriam revelar a orientação sexual para ajudar outros a fazerem o mesmo.
– 18% dos torcedores acreditam que jogadores LGBTs deveriam esconder a orientação sexual.
– 15% dos torcedores acreditam que um jogadores LGBT no time deixaria os outros colegas da equipe desconfortáveis.
– 50% disseram já ter escutado ofensas homofóbicas em partidas, 51% disseram ter ouvido ofensas machistas e 59%, racistas.
No Parlamento
A pesquisa foi publicada em um momento em que o futebol inglês passa por uma profunda reflexão sobre a questão.
Na semana passada, o presidente da FA, a federação de futebol da Inglaterra, Greg Clarke, afirmou, ao responder questões feitas por uma comissão parlamentar, que teria cautela ao recomendar que um jogador saísse do armário.
Segundo o dirigente, o atleta poderia ser alvo de “duras ofensas” por parte dos torcedores.
Ao ser novamente questionado em um programa de rádio da BBC, Clarke manteve sua opinião de que “ofensas maliciosas vindas de uma pequena minoria” deveriam ser resolvidas antes que jogadores pudessem “assumir o risco” de se declararem LGBT.
O dirigente afirmou, porém, que apoiaria e respeitaria os atletas que tomassem essa decisão.
“Eu não poderia prometer, no momento, que eles teriam a proteção necessária. Temos de redobrar nossos esforços para propiciar um ambiente seguro”, disse ele, que espera atingir esse objetivo no espaço de “um ou dois anos”.
O ex-jogador Chris Sutton criticou as afirmações e disse que Clarke escolheu uma saída fácil para a questão, em vez de enfrentá-la. Segundo ele, o dirigente se deixa levar pela reação de “8% de homens da caverna”.
Sutton, que jogou em times como Chelsea, Norwich, Blackburn, e Celtic, disse: “Revelar a homossexualidade não deveria ser problema no ambiente de trabalho. O futebol é como qualquer trabalho. Os jogadores com quem trabalhei não dariam a mínima (se algum colega revelasse ser homossexual)”.
“Esses 8% não deveriam frequentar campos de futebol. Ao não encarar o problema, os 8% saem ganhando nisso tudo. Greg Clarke deveria estar criticando esses indivíduos”, afirmou o ex-jogador.
De acordo com Simone Pound, que chefia o Departamento de Igualdade e Diversidade da Associação de Jogadores de Futebol, a cultura do futebol inglês passa por mudança, e a questão está deixando de ser um tabu.
“Trabalho há mais de 15 anos com futebol e certamente notei uma mudança na cultura do esporte. Há muito mais aceitação e compreensão sobre pessoas LGBT.”
Punição
Em maio deste ano, a federação inglesa puniu com multa o jogador Chris Stokes, do Coventry City após ele tuitar a palavra “faggots” –um xingamento homofóbico em inglês– ao comentar um jogo entre Chelsea e Tottenham.
O atleta pediu desculpas e afirmou que sua postagem “foi totalmente errada”.
Stokes disse apoiar que jogadores LGBT revelem sua orientação.
“Eles encontrariam apoio total no vestiário –e, quiçá, o apoio total das arquibancadas também.”