Conheça o apartamento do casal Bruno Astuto e Sandro Barros
Foram mais de dois anos de intensa procura por um lar em São Paulo que conseguisse abrigar nossas duas grandes paixões: louças e livros. Por paixão, entenda um sentimento desmedido e incontrolável, vício mesmo, que nos faz correr o mundo atrás de souks, sebos, livrarias, feirinhas, leilões e antiquários.
Antes mesmo de definir onde ficariam, no novo apartamento, os sofás, as camas e as cadeiras, começamos os trabalhos pela biblioteca e pelo louceiro. Eles são o coração da casa, coisa que a decoração não deixa mentir: a biblioteca é vermelha, do chão às paredes, e o louceiro, de couro de píton pink.
Gostamos de azul e branco, de tecidos brocados e papéis de parede estampados. Somos loucos por chinoiseries, japonismos, toiles dejouy, Rússia Imperial, Debrets e Rugendas brasileiríssimos e muitas imagens de santos.
Como juntar tudo isso sem parecer que estamos no mercado das pulgas? A resposta talvez fosse: e qual o problema de viver no mercado das pulgas? Em paz com a certeza de que o único cômodo clean seria a vaga da garagem, decidimos soltar a mão e sermos despudoradamente felizes.
O decorador da família, devo confessar, é meu marido, o Sandro. Quando entrei no apartamento vazio, tive uma crise de choro, pois não tinha a menor ideia de onde posicionar os móveis. Dois dias depois, Sandro chegaria com os croquis de cada cômodo, pintados à mão, como fizera, aliás, no nosso casamento.
Detalhista, meticuloso com os acabamentos e com um profundo senso estético trazido de sua profissão – ele é estilista –, Sandro “bordou” cada canto. Com a gente, não existe essa história de a casa ser uma extensão da cidade. A intenção foi nos transportarmos para outra dimensão, um Epcot Center de estilos.
Na biblioteca vermelha, nossa coleção de Imaris e a boneca japonesa comprada na nossa lua de mel dividem espaço com tecidos brocados de medalhões dourados da Braquenié, de Paris, e da Entreposto. Os quartos representam as Yvelines francesas, com toiles de jouy de cenas de trabalho no campo e chinoiseries.
Na sala de almoço, as gravuras brasileiras de Rugendas, do chão ao teto, ficaram sobre um papel dourado metalizado e texturizado. Uma amiga perguntou: “É Chanel?”. Não, Leroy Merlin, chérie! Para as cadeiras Jansen da sala de jantar, encontramos, por uma pechincha, uma mesa antiga embaixo de um viaduto do Centro de São Paulo. Daí veio o problema: o lustre era tão enorme e desproporcional, de um antigo salão de baile, que… bingo!, ficou perfeito.
Nosso mix & match, como se vê, também se aplica aos volumes, coisa que aprendemos na biografia de uma das nossas musas, a socialite russa Zenaida Yusupova, que dizia não existir nada mais entediante do que comprar um elefante pensando no tamanho da carroça. Não tenho ideia se ela comprou mesmo o tal elefante, mas o fato é que eu sempre escrevo olhando para o retrato dela, em frente ao meu computador, e por isso meus textos para a Vogue sempre têm estouro… Viemos de famílias italianas; tudo gira em torno da mesa.
A paixão por mesas postas foi a desculpa para termos quatro delas para arrumar e receber nossos amigos – ou mesmo ficarmos, tête-à-tête, no café da manhã no nosso quarto, como num hotel. Jantar aqui é assim: tem louça, trocentos copos, patos de prata, carrossel, palmeiras, tudo ao mesmo tempo agora, uma diversão. Fui criado por avó e tia, e elas adoravam um bibelô – se me colocassem numa casa minimalista ou modernista, eu me sentiria num túmulo. Felizmente, Aurora, nossa buldogue francesa, não sente a menor fome diante de sofás, almofadas, pés de mesa e objetos de decoração.
Contamos com a ajuda do nosso amigo, o arquiteto Jorge Elias – santo Jorge – para dar uma curadoria técnica e editar tanta informação. O quarto de empregada, coisa a que temos verdadeiro horror – a nossa, quando dorme, o faz no quarto de hóspedes, evidentemente –, se transformou no louceiro dos sonhos do Sandro. Nem acredito que concluímos em três meses, como nesses reality-shows da tevê.
Nesse ritmo de “do it yourself”, por várias vezes cogitei entrar no primeiro boteco da nova vizinhança, e olha que eu nem bebo. No meio do processo, fiz uma turnê de palestras por 23 cidades brasileiras, uma cirurgia bariátrica, perdi 50 kg e todas as roupas e sapatos, que, aliás, doei alegremente. A casa nova talvez seja um símbolo dessa vida nova. E a nossa é over, cigana, apaixonada, com muitos elefantes na carroça e a leveza de quem encontrou seu mix ao lado do seu perfect match.