Após decisão de juiz do DF, personalidades se manifestam contra a ‘cura gay’
Na última segunda-feira, 18, o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do Distrito Federal, concedeu uma liminar que abre brecha para que psicólogos ofereçam terapia para reorientação sexual, conhecida como ‘cura gay’. A prática é proibida por uma resolução de 1999 do Conselho Federal de Psicologia.
A decisão do juiz gerou revolta nas redes sociais e muitos artistas se posicionaram contra, ressaltando que a sexualidade de pessoas LGBT não é doença. Muitos artistas e internautas estão usando as hashatags #curagay #TrateSeuPreconceito e #HomofobiaéDoença.
A cantora drag Pabllo Vittar, por exemplo, publicou duas mensagens em sua conta no Twitter: primeiro, disse “não somos doentes”; depois, acrescentou que “o preconceito não vai vencer”.
NÃO SOMOS DOENTES
— Pabllo Vittar (@pabllovittar) 19 de setembro de 2017
O PRECONCEITO NÃO VAI VENCER ?????????????
— Pabllo Vittar (@pabllovittar) 19 de setembro de 2017
Anitta fez um vídeo com legenda em inglês e português criticando a decisão e dizendo que o País tem coisas mais importantes com o que se preocupar. “Eu tô devastada por dentro e quero mandar toda a solidariedade para o meu público e para os meus amigos. Eu estou aqui rezando para que os nossos representantes deem atenção para o que realmente é importante, que é consertar nossa miséria, nossa corrupção, nossa falta de educação, de instrução, até mesmo para ninguém mais cometer uma burrice como essa”, falou a cantora no vídeo.
Fernanda Gentil, que namora uma mulher, ironizou a decisão do juiz com uma foto com um termômetro e comprimidos publicada em seu Instagram. “Tentando me curar dessa doença, mas tá difícil. Ô Paulo Gustavo, obteve sucesso aí?”, escreveu ela na legenda.
Paulo Gustavo também “tentou se curar” em um vídeo bem-humorado em suas redes sociais. “Tudo que é remédio eu já tomei aqui, para poder tentar melhor da homossexualidade mas não tô conseguindo não. Eu tô viado há muito tempo”, brincou o humorista, e perguntou para Preta Gil, para Fernanda e Ana Carolina se elas já tinham se curado, formando uma corrente nas redes sociais para combater a LGBTfobia.
A atriz Taís Araújo falou que “Homossexualidade não é uma doença. Eu tenho muito medo quando um juiz valida a homossexualidade como doença e libera tratamentos psicológicos para isso, da gravidade desse ato e do que isso pode gerar. Eu tenho a sensação de que isso pode gerar mais homofobia e, consequentemente, mais violência, mais morte, menos compaixão, menos amor. Acho que a gente precisa mesmo é de amor, afeto, acolhimento e respeito. E compreender de uma vez por todas que a condição sexual de uma pessoa só importa a ela, exclusivamente”, publicado no Instagram.
“Dá para perceber de ‘cara’ que estamos doentes. Doentes de amor, doentes de respeito mútuo, doentes por nossa família. Somos doentes de felicidade! Nos respeitem”, falou Daniela Mercury em uma foto em que aparece ao lado da esposa, Mallu Verçosa.
“Como é que cura um ser humano de amar o outro? E aí, tem esse remédio?”, questionou Preta Gil.
Outro personalidade a criticar a decisão da Justiça Federal foi a cantora Ivete Sangalo, que disse que há “inúmeras pendências que caberiam a uma administração descente resolver”.
“Doente são aqueles que acreditam nesse grande absurdo. Pessoas, pensem sobre o que esse grande equívoco, absorvam a coragem e a luta dos homossexuais e apliquem as suas mofadas e inertes vidas”, publicou.
Claudia Leitte ressaltou a importância e a beleza da diversidade e disse ainda que decisões como a do juiz são retrocessos que geram mais violência, lembrando que LGBTfobia é crime.
“Quando a gente vai perceber que é por conta das nossas diferenças que somos tão bonitos?! Todos precisamos de respeito! Todos temos os mesmos direitos! Retrocessos como acreditar que a condição sexual pode ser mudada torna nossa caminhada tão escura e sombria… Doença mesmo é o desafeto, a ausência de compaixão e, caso não fique claro, vale ressaltar, homofobia é crime e leva ao crime! Mais amor”, pediu a cantora.
Valesca Popozuda também foi irônica na hora de se manifestar contra a decisão, na segunda-feira. A cantora brincou no Twitter dizendo que “90% da equipe não iria trabalhar porcausa da doença”: “estão todos gays”, disse ela numa postagem no Twitter. Nesta terça-feira, a cantora se manifestou novamente contra a liminar através de uma postagem em outra rede social.
“Como eu disse ontem, sem equipe. Todos continuam gay, hoje tem show e eu estou preocupadíssima. Precisamos fazer piada para não chorar, né? Chega a ser cômico algumas decisões ultimamente. Obs: minha equipe continua em recuperação, mas segundo o médico disse ‘estão todos estáveis’, porém sem previsão de alta. Mais amor e menos ódio”, pediu.
A artista Marília Mendonça questionou a decisão do juiz em seu perfil no Instagram e pediu respeito. “O que esperar de um Brasil que trata as maiores atrocidades como se fosse normal, e que trata o amor das pessoas como se fosse doença?”, registrou a cantora na rede social.
Além disso, ela ainda rebateu um seguidor que pediu para que ela deixasse “os diagnósticos pra quem estudou”. “Vai cantar, minha filha, é o que você sabe fazer”, disse o seguidor, completando ainda: “Doença é querer ser uma coisa que não é, mais precisamente um distubio (sic) mental”. A resposta de Marília não poderia ser mais clara: “Vamos deixar quem estudou argumentar, né? Porque ‘distubio’ é uma palavra que nunca ouvi falar. O básico pra saber é português, depois que a gente aprende a gente se arrisca a falar sobre outras coisas”.