Casal é espancado por homofobia e diz ter sofrido preconceito também na delegacia
Um casal relata ter sido espancado na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, na tarde do domingo (12), vítimas de homofobia. Em boletim de ocorrência, o jovem de 21 anos afirma que, entre socos e pontapés, ouviu do grupo de cinco homens falar: “vai virar regra atacar viado”.
O denunciante, que prefere não se identificar, diz que estava com o namorado, de 27 anos, passeando no bairro quando foram atacados.
“Nós tivemos uma semana cheia e decidimos descansar domingo. Escolhemos a Lagoa da Conceição pelo visual, a energia. É muito triste pensar que viramos estatística”, disse o jovem de 21 anos.
Segundo ele, em frente a um supermercado, próximo à ponte que leva até a Avenida das Rendeiras, o casal começou a conversar com um grupo de pessoas. “Foi um papo banal. Mas mal começamos a conversar com eles e já começamos a levar socos. Quando eu vi meu namorado já estava no chão, desmaiado”, disse.
Ele acredita que o grupo não gostou do jeito do casal. “Eu sou considerado afeminado. Tenho trejeitos afeminados. Não gostaram que estivéssemos namorando. Quando nós acusamos eles de homofobia, já agredidos, eles saíram correndo”, disse.
O namorado de 27 anos ficou internado em observação no Hospital Celso Ramos até a manhã desta segunda (13), após quebrar o nariz e sofrer uma contusão na perna. O rapaz de 21 anos teve diversas agressões no rosto e sofreu pancadas na cabeça.
Preconceito na delegacia
O casal foi para casa e esperou amigos para ir à delegacia. Na 5ª Delegacia de Polícia da capital, relatam ter sofrido ainda mais preconceito.
“Primeiro não queriam nos atender. Depois, o policial nos chamou para prestar depoimento e começou a aumentar o tom. Ele ainda disse para que a gente parasse de se vitimizar”, conta o jovem agredido.
No boletim de ocorrência, consta como fato lesão corporal contra homem, apesar de no relato das vítimas estar escrito que elas entendem serem vítimas de homofobia.
Nos últimos três anos, 495 pessoas informaram em delegacias de Santa Catarina que foram vítimas de homofobia, conforme dados computados em boletins de ocorrência. Entretanto, no espaço do B.O. onde o policial interpreta o crime relatado, apenas em 309 consta homofobia.
Posição da delegacia
O denunciante afirma não ter recebido informações sobre a investigação do caso. O delegado Alfredo Ballstaedt, responsável na 5ª DP, confirmou que a ocorrência foi registrada no local, mas caberá à 10ª Delegacia de Polícia Civil, na Lagoa da Conceição, a investigação. O B.O foi encaminhado nesta segunda à delegacia.
Ballstaedt diz não ter conhecimento do casal ter sofrido preconceito na delegacia, mas afirma que está à disposição na delegacia para esclarecimentos e que a prática não é admitida na unidade, independentemente de sexo, cor, orientação religiosa, política ou sexual.
“Sinceramente, por conhecer meus policiais, não acredito que algo do tipo tenha ocorrido, mas, se tal fato realmente ocorreu, os responsáveis serão punidos. Volto a afirmar, essa postura não se coaduna com a de um policial civil”, diz Ballstaedt.
O delegado ainda afirma que o agente deu o título da ocorrência da forma correta, por não existir crime de homofobia. No entanto, conforme a Coordenadoria Estadual de Segurança de LGBT da Polícia Civil, mesmo sem tipificação penal, é possível registrar como ‘fato’ no boletim de ocorrência homofobia.