Batizada de Operação Cinderela, a força-tarefa contou com equipes do Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF) e Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae).
Segundo o MPT, um dos alvos da operação já estava preso em razão de outro processo criminal, em que é investigado por dois homicídios e pelo desaparecimento de três transexuais, sendo uma delas adolescente.
Os agentes cumpriram mandados em endereços nos bairros Jardim Salgado Filho, Quintino Facci I, Centro, Vila Tibério, Vila Tamandaré e Avelino Alves Palma. Um micro-ônibus foi usado para transportar as 38 vítimas identificadas até a delegacia da PF para prestarem depoimento.
Investigação
Em nota, a PF informou que a investigação teve início a partir das denúncias de duas vítimas, que conseguiram fugir do local onde eram obrigadas a se prostituírem. A maioria delas é natural de estados do Norte e Nordeste brasileiros.
A quadrilha prometia às travestis e transexuais procedimentos de readequação do corpo, além de hospedagem e alimentação. Por isso, as vítimas já chegavam a Ribeirão Preto com dívidas referentes aos valores das passagens e despesas de viagem.
“Criada a condição de dependência econômica e ascendência sobre as vítimas, os aliciadores davam início à transformação corporal daquelas, com a aplicação de silicone industrial e realização de procedimentos cirúrgicos ilegais, de modo a aumentar ainda mais a dívida das vítimas.”
A PF informou também que as travestis e transexuais eram obrigadas a consumir drogas e a se prostituírem para pagar as dívidas, e havia uma “divisão territorial” para atuação de cada aliciador. Os nomes dos investigados ainda não foram divulgados.Castigos Físicos
Ainda segundo a PF, as travestis e transexuais que não conseguiam pagar as dívidas ou desrespeitavam as regras eram julgadas em um “tribunal do crime” e punidas com castigos físicos, morais e até multas, além de terem seus pertences subtraídos.
“Há registros de suicídios em virtude das pressões sofridas pelas vítimas, desaparecimentos, aplicações de castigos físicos com pedaços de madeira com pregos e homicídios, tudo decorrente da cobrança de dívidas”, informou a PF.
Os suspeitos responderão pelos crimes de tráfico de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, exercício ilegal da medicina, organização criminosa e rufianismo – que consiste em obter lucro com a prostituição alheia. As penas desses crimes podem somar mais de 34 anos de prisão.