Educação

Bancada evangélica pede e Bolsonaro anuncia o fim de vestibular para pessoas trans

MEC confirmou que a Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) vai cancelar o edital.

Bolsonaro recebe bancada evangélica para café da manhã na última quinta-feira, dia 11. (Foto: Marcos Côrrea / PR)
Bolsonaro recebe bancada evangélica para café da manhã na última quinta-feira, dia 11. (Foto: Marcos Côrrea / PR)

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta tarde que, após “intervenção” do ministério da Educação (MEC), a Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) suspenderá um vestibular para transexuais, travestis, intersexuais e pessoas não binárias. A instituição havia anunciado em seu site, no último dia 10, uma seleção específica para estes candidatos nos campi do Ceará e da Bahia.

“A Universidade da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Federal) lançou vestibular para candidatos TRANSEXUAL [sic], TRAVESTIS, INTERSEXUAIS e pessoas NÃO BINÁRIOS [sic]. Com intervenção do MEC, a reitoria se posicionou pela suspensão imediata do edital e sua anulação a posteriori”, escreveu Bolsonaro em seu Twitter.

De acordo com reportagem do site Uol, o vestibular para pessoas trans foi alvo de preconceito durante café da manhã com Bolsonaro e a bancada evangélica no Palácio do Planalto realizado na última quinta-feira (11).

“Senhor presidente, nem nos governos de esquerda eles tiveram tamanha ousadia. Se o cidadão, homem ou mulher, quiser fazer vestibular, não poderá, porque esse vestibular é só para travesti, transgêro e intersexuais”, afirmou o participante do café com o presidente.

Bolsonaro respondeu em seguida: “Isso será analisado. Coisas absurdas têm acontecido ainda dado à autonomia das universidades”, disse o presidente.

O edital ao qual o presidente se refere teve inscrições abertas ontem (15) e previsão de receber candidaturas até 24 de julho para 120 vagas em 19 cursos como Administração Pública (5 vagas), História (18), Letras (13) e Matemática (3).

No final de maio, a universidade anunciou processo seletivo para 374 vagas em cinco cursos, sendo que metade deste número foi destinado a alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas.

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira foi criada em 2010, com sede na cidade de Redenção, no Ceará.

O site da instituição cita um levantamento da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), publicado em maio deste ano, que afirma que só 0,2% de estudantes de graduação das universidades federais são pessoas trans.

Com dificuldades para concluir o ensino regular e para ingressar nas universidades e no mercado de trabalho devido a preconceito, muitas pessoas trans acabam empurradas para a marginalidade.

“É uma população que não tem acesso às mesmas oportunidades de estudo, de competir por uma vaga no vestibular. Esse vestibular era uma política afirmativa para fazer com que a população trans tivesse pelo menos a chance de ingressar na universidade”, diz a advogada Maria Eduarda Aguiar.

Aguiar, que foi a primeira advogada transexual brasileira a ter seu nome social incluso na carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), acredita que não há justificativa para o governo impedir a realização do vestibular.

“Eles [governo] estão riscando a gente do mapa”, afirma Maria Eduarda, primeira advogada brasileira transexual a ter seu nome social incluso na carteira da OAB.

Ainda segundo o site Uol, o MEC confirmou que a universidade vai cancelar o edital. A pasta questionou a legalidade do vestibular perante a Procuradoria-Geral da República (PGR), posto que “Lei de Cotas não prevê vagas específicas para o público-alvo do citado vestibular.”

Autonomia universitária

Segundo a Constituição brasileira, as universidades têm autonomia “didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial” – ou seja, suas ações não dependem de respaldo do presidente da República, nem de nenhum agente público.

Até a tarde de hoje, o edital continuava aberto no site da universidade e as inscrições podem ser feitas normalmente.

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1 comentário

  1. Sendo LGBTs quem MUITO mais sofrem preconceitos, se há as tais cotas raciais, muito mais lógico que deveria haver para LGBTs, em particular transexuais e travestis.
    Infelizmente o que vale é a INCOERENCIA.
    Cotas nem deveriam haver, exceto para deficiencias e certas doenças. E pela enorme exclusao e hostilizaçao pela sociedade, tambem para transexuais e travestis.

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