Bahia

‘Me chamar de viado não é ofensa. Tomar 4 tiros sim’, diz homem baleado por homofobia na Bahia

Em relato forte, Marcelo Macedo comentou o caso nas redes sociais nesta sexta-feira (25), cinco dias após o crime. Ele segue internado sem previsão de alta. Suspeitos estão soltos.

Marcelo Macedo levou 4 tiros após beijar outro rapaz em um bar na cidade de Camaçari, na Bahia. (Foto: Reprodução/Instagram)
Marcelo Macedo levou 4 tiros após beijar outro rapaz em um bar na cidade de Camaçari, na Bahia. (Foto: Reprodução/Instagram)

O baiano que foi agredido e levou 4 tiros após beijar um ficante em um bar da cidade de Camaçari, na região metropolitana de Salvador, comentou o caso nas redes sociais pela primeira vez nesta sexta-feira (25), cinco dias após o crime. [Confira relato na íntegra ao fim da reportagem]

Em um texto com declarações fortes, Marcelo Macedo reforçou o medo que havia relatado em entrevistas e lamentou o fato de os três suspeitos do crime ainda estarem soltos e terem as identidades preservadas pela polícia durante as investigações.

“Não sei como será quando sair daqui. Temo pelos meus familiares. Estamos assustados em saber que quem atentou contra a minha vida está solto por aí, sua cara não está estampada em todos os jornais estando tão vulnerável como eu me encontro agora, botando a cabeça no travesseiro deitado na cama da sua casa e dormindo todos os dias tranquilamente”.

“Me chamar de ‘viado’ não é ofensa. Tomar 4 tiros sim. Uma dor irreparável, além de física, emocional e psicológica. Não sei como será de agora em diante, não sei se serei mais o mesmo. Esse medo que estou sentindo irei carregar até o fim dos meus dias. Só peço proteção para mim e toda a minha família. Orem por mim!”.

Na publicação, o baiano também fez um balanço do que tem vivido enquanto aguarda alta médica no Hospital Geral de Camaçari (HGC).

“Dormi e acordei em uma cama de hospital, e só sabia chorar, achei que tivesse morto e desfrutava do paraíso. Não lembrava de muita coisa. Ao abrir os olhos e me dar conta do que estava acontecendo, entrei em estado de choque, mas por incrível que pareça, o hospital é o meu lar agora, é o lugar onde me sinto seguro, protegido, em paz”.

Vítima de homofobia, Marcelo Macedo foi agredido e baleado em um bar na Bahia. (Foto: Reprodução/Instagram)
Vítima de homofobia, Marcelo Macedo foi agredido e baleado em um bar na Bahia. (Foto: Reprodução/Instagram)

“É difícil acreditar que as pessoas são agredidas tão cruelmente e de maneira tão covarde pelo simples fato de demonstrar afeto. É triste. Dói. Estou despedaçado. Eu amo a minha cidade, nasci e me criei aqui. Nem no meu pior pesadelo eu imaginei que um dia pudesse ser tão violentado. Ver a morte de perto é assustador. Nos paralisa”.

O crime ocorreu na noite do último domingo (20). Antes do ataque começar, a vítima foi questionada “se não tinha vergonha de fazer isso na frente de pais de família”.

Marcelo Macedo levou um tiro no braço e três no abdômen. Após uma cirurgia, ele tem estado estável de saúde, mas não há previsão de alta.

O caso está sob investigação da Delegacia de Camaçari. Três homens, incluindo um policial militar, são suspeitos do crime. Os nomes deles não foram divulgados para, segundo a polícia, não atrapalhar as investigações.

Em nota divulgada na quinta-feira, a Polícia Civil informou que os três já foram ouvidos pela delegada Thais Siqueira, titular do município, porém não detalhou se eles foram detidos após o depoimento.

Segundo a Polícia Civil, o caso só será comentado pela delegada após o final das investigações.

Procuramos a Polícia Militar para saber a situação do policial suspeito de envolvimento no crime na quinta-feira, mas não obteve retorno até esta publicação.

Vítima de homofobia, Marcelo Macedo foi agredido e baleado em um bar na Bahia. (Foto: Reprodução/Instagram)
Vítima de homofobia, Marcelo Macedo foi agredido e baleado em um bar na Bahia. (Foto: Reprodução/Instagram)

Confira o relato de Marcelo completo:

Vivi um verdadeiro filme de terror nos últimos dias. Por isso quero iniciar agradecendo todos os meus amigos por me carregarem no colo. É difícil acreditar que as pessoas são agredidas tão cruelmente e de maneira tão covarde pelo simples fato de demonstrar afeto. É triste. Dói. Estou despedaçado. Eu amo a minha cidade, nasci e me criei aqui. Nem no meu pior pesadelo eu imaginei que um dia pudesse ser tão violentado. Ver a morte de perto é assustador. Nos paralisa. Sou jovem, tenho uma família, uma vida inteira pela frente e por um milagre de Deus hoje estou vivo, mas quase tive meus sonhos interrompidos de maneira tão vil. O que me dá força para escrever pra vocês é a gratidão pelos meus amigos, sem eles e sem a todos que me mandaram mensagens de carinho e afeto, não sei se conseguiria. Mas o que me encoraja também é o medo. Só quem já perdeu um familiar ou um amigo conhece essa dor, só quem já esteve de cara com a morte sabe o que estou falando e pode mensurar um pouco do que estou sentindo agora.

Dormi e acordei em uma cama de hospital, e só sabia chorar, achei que tivesse morto e desfrutava do paraíso. Não lembrava de muita coisa. Ao abrir os olhos e me dar conta do que estava acontecendo, entrei em estado de choque, mas por incrível que pareça, o hospital é o meu lar agora, é o lugar onde me sinto seguro, protegido, em paz. Não sei como será quando sair daqui. Temo pelos meus familiares. Estamos assustados em saber que quem atentou contra a minha vida está solto por aí, sua cara não está estampada em todos os jornais estando tão vulnerável como eu me encontro agora, botando a cabeça no travesseiro deitado na cama da sua casa e dormindo todos os dias tranquilamente. Me chamar de “viado” não é ofensa. Tomar 4 tiros sim. Uma dor irreparável, além de física, emocional e psicológica. Não sei como será de agora em diante, não sei se serei mais o mesmo. Esse medo que estou sentindo, irei carregar até o fim dos meus dias. Só peço proteção para mim e toda a minha família. Orem por mim!

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