AMMAN (Ban Barkawi, da Thomas Reuters Foundation) – Com o aconselhamento por telefone e a entrega emergencial do coquetel de medicamentos anti-HIV, grupos LGBTQI+ em todo o mundo árabe estão aumentando o apoio às pessoas que, por causa do confinamento necessário para combater o coronavírus, estejam lutando contra família abusivas e a solidão.
Com mais de 40 casos confirmados na Cisjordânia, a Autoridade Palestina fechou locais de oração, pediu que os cidadãos limitem o contato social e impôs um toque de recolher na cidade de Belém.
— O ambiente em que vivemos é, infelizmente, agressivo à comunidade LGBT+ — diz Omar Al-Khatib, do grupo LGBTQI+ palestino alQaws, onde pessoas LGBTQI+ geralmente vivem com famílias que não as aceitam. — Ficar em casa pode eliminar o acesso dessas pessoas a espaços privados e aumentar o bullying.
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A aceitação de minorias é baixa no altamente conservador mundo árabe. Relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo são ilegais e podem ser punidos com multas, prisão ou até mesmo a pena de morte, de acordo com a organização Human Rights Watch. As restrições impostas pela pandemia do coronavírus deixam pessoas LGBTQI+ sem opções a não ser ficarem em casa, já que espaços que costumam oferecer algum acolhimento, como cafés e clubs, estão fechados.
Com o fechamento dos negócios, as preocupações com dinheiro também aumentam entre a população LGBTQI+, sobretudo os que vivem sós porque foram rejeitados por suas famílias.
— A quarentena cria um sentimento de isolamento e medo e, como eles estão sozinhos, não é seguro — explica Khatib, cujo grupo usa o Facebook para convocar as pessoas que se sintam sós a chamar sua hotline, que está aberta nas noites de quarta e domingo.
O Líbano, primeiro país árabe a organizar uma Parada do Orgulho LGBTQI+, em 2017, já registrou 130 casos de coronavírus. O governo anunciou que vai fechar fronteiras, bancos e a maioria das instituições públicas até 29 de março. O grupo Líbano Orgulhoso organizou uma força-tarefa de voluntários que vão entregar medicamentos para pessoas com HIV que não possam sair de suas casas.
— Elas estão com medo de vir buscar os medicamentos — afirma o diretor do grupo, Bertho Makso. — Têm medo de que falte medicamento e não podem sair porque não há transporte público.
O apoio remoto está crescendo na Tunísia, que teve seu primeiro candidato LGBT à presidência no ano passado (ele teve que deixar o país depois de ser ameaçado de morte por muçulmanos extremistas). Com cerca de 30 casos de coronavírus, as autoridades tunisianas suspenderam as atividades nas mesquitas, fecharam cafés e proibiram encontros culturais, esportivos e econômicos.
O grupo LGBTQI+ Mawjoudin terminou com os aconselhamentos presenciais e fechou a sala comunitária de seu centro na capital Túnis, onde as pessoas costumavam passar seu tempo livre ou encontravam amigos em um ambiente seguro. As ligações para a hotline do grupo cresceram nas últimas semanas, segundo Hana, uma ativista LGBTQI+ que prefere não dar o sobrenome porque ativistas sofrem assédio no país onde relações entre pessoas do mesmo sexo pode ser punido com até três anos de prisão.
— As pessoas expressam sua frustração. Quando podiam sair sozinhas, elas tinham a liberdade de ter um momento em que não mentiam para suas famílias. Agora já não têm isso.