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Parlamento da Hungria aprova lei que impede adoção por casais do mesmo sexo

Texto da Constituição também teve alterações promovidas por governo de ultradireita, incluindo uma definição mais restrita de 'família'.

Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. (Foto: John Thys / via Reuters)
Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. (Foto: John Thys / via Reuters)

O Parlamento da Hungria, no qual o Fidesz, partido do primeiro-ministro Viktor Orbán, tem uma maioria de dois terços, aprovou uma lei nesta terça-feira que impede casais do mesmo sexo de adotar crianças. A lei proposta pelo governo de ultradireita diz que apenas pessoas casadas podem adotar crianças e que pessoas solteiras só podem fazê-lo com uma permissão especial do ministério responsável pelos assuntos da família.

Na Hungria, o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é permitido, e a ministra da Família, a homofóbica Katalin Nonvak, defende o que chama de modelo tradicional de família.

A lei foi aprovada apesar do recente escândalo envolvendo um dos expoentes do Fidesz, József Szájer, ideólogo da Constituição aprovada por Orbán em 2011, um ano depois de chegar ao poder, que define o casamento como “a união entre um homem e uma mulher”.

Szájer renunciou a sua cadeira no Parlamento Europeu e deixou o Fidesz no início de dezembro depois de ser flagrado pela polícia fugindo de uma orgia gay em Bruxelas que desrespeitava as normas de restrições de reuniões impostas por causa da pandemia da Covid-19. O caso deu margem a acusações de hipocrisia dirigidas ao governo.

O Parlamento húngaro também fez alterações na Constituição de 2011, incluindo uma definição ainda mais restrita para família, que é “baseada no casamento e na relação entre pais e filhos. A mãe é uma mulher, o pai um homem”. A emenda determina que os pais criem os filhos dentro da “cultura cristã”.

“A Hungria defende o direito das crianças de se identificarem com seu gênero de nascimento e garante sua educação com base na identidade constitucional de nossa nação e nos valores baseados em nossa cultura cristã”, diz o documento.

Até o momento, era possível que casais do mesmo sexos adotassem crianças se uma das pessoas se inscrevesse como solteiro.

A medida fora enviada ao Parlamento em novembro, causando preocupação na oposição porque ela havia sido sugerida com pouco alarde e em meio à pandemia da Covid-19. Organizações de direitos humanos já haviam alertado que a mudança iria praticamente proibir a adoção de crianças por casais do mesmo sexo.

Em maio, a Hungria já havia proibido a retificação de sexo em documentos pessoais e também questionou os livros infantis que retratam a diversidade de forma positiva.

Organizações de direitos humanos condenaram as mudanças aprovadas pelo Parlamento húngaro. O diretor da Anistia Internacional no país, David Vig, disse que “essas novas leis discriminatórias, homofóbicas e transfóbicas são apenas o último ataque das autoridades húngaras à população LGBTQ”.

A Anistia publicou uma nota conjunta em seu site, com declarações de outras organizações criticando as mudanças.

“Crianças em toda a Hungria não poderão ter famílias seguras e amorosas, já que a adoção é restrita apenas a casais heterossexuais casados”, disse Katrin Hugendubel, diretora de advocacia da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA, na sigla em inglês).

*Com informações da Reuters e Bloomberg

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