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“Finalmente eu mesmo”, diz árbitro Igor Benevenuto sobre sair do armário

Juiz falou abertamente sobre sua sexualidade em entrevista para podcast nesta sexta-feira (08).

Árbitro Igor Junio Benevenuto durante partida entre Botafogo e Paraná. (Foto: Thiago Ribeiro/AGIF)
Árbitro Igor Junio Benevenuto durante partida entre Botafogo e Paraná. (Foto: Thiago Ribeiro/AGIF)

O árbitro Igor Benevenuto declarou ser gay em entrevista ao podcast ‘Nos Armários dos Vestiários’, do ‘ge’. Com isso, o mineiro de 41 anos se tornou o primeiro juiz do quadro da Fifa a se manifestar LGBQIA+ publicamente.

“Meu nome é Igor Junio Benevenuto de Oliveira. Sou árbitro de futebol. A partir de hoje, não serei mais as versões de Igor que eu criei. Não serei o Igor personagem árbitro, personagem para os amigos, personagem para a família, personagem dos vizinhos, personagem para a sociedade hétero. Serei somente o Igor, homem, gay, que respeita as pessoas e suas escolhas. Sem máscaras. Somente o Igor. Sem filtro e finalmente eu mesmo”, afirmou.

Em longo depoimento à repórter Joanna de Assis, o árbitro relatou que cresceu “odiando profundamente” o futebol por conta do “ambiente, do machismo e do preconceito disfarçado de piada”. Ele, que disse saber que era gay desde cedo, também contou que montou um personagem para “sobreviver na rodinha” de meninos que viviam jogando bola.

“Não havia lugar mais perfeito para esconder a minha sexualidade. Mas jogar não era uma opção duradoura, então fui para o único caminho possível: me tornei árbitro”, acrescentou.

Igor já dedicou 23 anos de sua vida “ao apito” e revelou que, até hoje, nunca havia sido ele de verdade. “Os gays costumam não ser eles mesmos. Passei minha vida sacrificando o que sou para me proteger da violência física e emocional da homofobia. E fui parar em um dos espaços mais hostis para um homossexual. Era por saber disso que eu odiava o futebol”, completou.

Natural de Minas Gerais, o árbitro ainda disse que sempre foi levado a estádios para assistir a jogos de Cruzeiro, Atlético e América-MG, mas que não conseguia torcer para nenhum time. “Vestia todas as camisas e, ao mesmo tempo, não vestia nenhuma. Não havia nenhum significado nisso. Em casa, o povo é dividido, cada um torce para um clube, e só eu não tinha esse tipo de amor. Vivia isolado, um moleque triste, com um buraco no coração”, relatou.

A Copa do Mundo de 1994, dos Estados Unidos, foi um marco em sua vida. “Olhei a televisão e me interessei imediata e exclusivamente pela figura diferente que estava em campo: o árbitro. Foi justamente naquele ano que a Fifa aprovou a mudança dos uniformes dos juízes para o Mundial”, lembrou.

Assim, o preto das camisas deu lugar a cores vibrantes e ele ficou enfeitiçado “pelas cores e pelo cara que controlava tudo”. “No dia seguinte, na pelada com os meninos, avisei que não iria mais jogar. Queria comandar a partida, e foi assim que comecei a apitar e ressignificar minha relação com o futebol”, afirmou.

Depois disso, Igor começou a apitar os rachões entre os amigos. No entanto, quando faltavam jogadores em algum time, ele era chamado para completar, mas não queria. Foi então que começaram a chamá-lo de ‘Margarida’.

“O Margarida era um árbitro famoso da década de 1980 e 1990, gay assumido e performático. Para os moleques, essa era a forma de me atingir. Ser comparado a ele, ser chamado de gay era uma ofensa e eu não poderia levar numa boa, afinal interpretava meu papel hétero, em um ambiente hétero, rodeado de héteros”, disse.

Por fim, ele comentou sua relação com o esporte. “Tenho atração por homens e não sou menor por isso. Não estou no campo por isso. Não estou procurando macho, não estou desejando ninguém. Não estou ali para tentar nada. Quero respeito, que entendam que posso estar em qualquer ambiente. Não é porque sou gay que vou querer transar com todo mundo, vou olhar para todos. Longe disso. Eu só quero respeito e o direito de estar onde eu quiser”, desabafou.

“Nós, os gays no futebol, somos muitos. Estamos em toda parte. Mas 99,99% estão dentro do armário. Tem árbitro, jogador, técnico, casados, com filhos, separados, com vida dupla… Tem de tudo. A gente se reconhece. Eu brinco que temos um Wi-Fi ligado constantemente e que se conecta com o outro mesmo sem querer. Nós existimos e merecemos o direito de falar sobre isso, de viver normalmente”, encerrou.

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