Cinema & Teatro

No teatro, Reynaldo Gianecchini vive gay na epidemia de Aids em 1980

'Não podia ser sensível', afirma ator, que lembra da própria criação para compor personagem, em estreia do espetáculo ‘A Herança’.

Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes em "A Herança". (Foto: Divulgação/@arthurhbr @ga.metzner @gatufilme)
Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes em “A Herança”. (Foto: Divulgação/@arthurhbr @ga.metzner @gatufilme)

Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes estrearam na última quinta-feira, 9/3, em São Paulo, a pela “A Herança”, do americano Mattew Lopéz, com direção e tradução de Zé Henrique de Paula, no Teatro Vivo.

No espetáculo, que aborda a epidemia de Aids dos anos de 1980, Gianecchini vive Henry, e Bruno, Eric. A trama gira em torno de um grupo de jovens escritores, que decide contar as histórias deles próprios.

Eric vive um relacionamento conturbado com Toby (Rafael Primot), um dramaturgo, e acaba se envolvendo com Henry e Walter (Marco Antônio Pâmio). Forma-se aí um triângulo amoroso entre Eric, Henry e Walter.

Em entrevistas, o galã conta que precisou fazer um trabalho de libertação interna para dar vida à personagem:

“Existem gays de todos os tipos e na peça tem todos eles – uns mais loucos, outros mais contidos, ou com mais trejeitos. E eu fui testando qual seria o meu personagem. Na nossa sociedade, o homem tem que ser tão durão, e eu cresci tendo que ser durão”, declara.

“Falavam: ‘Cuidado, senão vão achar que você é bichinha’, ‘não pode ser sensível’. E aqui, na peça, é totalmente o oposto. Eu estava fazendo meu personagem bem durão e descobri com o tempo que ele foi se soltando e eu fui trazendo o aspecto feminino dentro dele”.

Reynaldo Gianecchini, Marco Antônio Pâmio e Bruno Fagundes vivem um triângulo amoroso na peça. (Foto: Divulgação/@arthurhbr @ga.metzner @gatufilme)
Reynaldo Gianecchini, Marco Antônio Pâmio e Bruno Fagundes vivem um triângulo amoroso na peça. (Foto: Divulgação/@arthurhbr @ga.metzner @gatufilme)

Apesar de ter vivido na década de 1980, período em que se passa a história da peça, Gianecchini diz que se surpreendeu com o impacto que a doença teve naquela época.

“Meu personagem chega carregado de dor. Foi um cara que viu os amigos morrendo de Aids”, afirma.

“Eu não tinha muita noção de como o governo foi negacionista e homofóbico, quando a Aids surgiu. Morreu muita gente e o governo não fez nada, não fez pesquisa, deixou todo mundo lá, no ‘gueto dos gays’. Eles achavam que era uma doença dos gays, mas estavam morrendo mulheres… Foi muito louco entrar nessa história”.

Atualmente com 50 anos de idade, o ator lembra que sua vida sexual não era nada ativa nos anos 1980 e ele não conhecia ninguém que havia morrido com a doença na época:

“Quando eu comecei a transar, não existia a menor possibilidade de transar sem camisinha, eu nunca abri essa possibilidade”.

Bruno Fagundes ressaltou a importância do espetáculo em discutir o tema sexualidade, que ainda enfrenta muitos preconceitos.

Ele, inclusive, disse que pensou em Gianecchini para compor o elenco justamente para que o tema retratado na peça seja naturalizado – para que o público veja que um ator tão conhecido da teledramaturgia também é engajado nesta causa.

“É louco pensar que ainda é uma discussão que precisa ser feita. É muito necessária. Como produtor dessa peça também, eu quero desmarginalizar esse assunto. Isso acabou, a gente tem que naturalizar esse assunto. Por isso que pensei no Giane, em um elenco estrelar”.

Beijo final da peça "A Herança". (Foto: Divulgação/@arthurhbr @ga.metzner @gatufilme)
Beijo final da peça “A Herança”. (Foto: Divulgação/@arthurhbr @ga.metzner @gatufilme)

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