Luiz Carlos Pereira de Lima, que em 2020 ficou conhecido nas redes sociais pelo meme “Cadê meu green?” (saiba mais abaixo), foi encontrado ensanguentado e morto nesta semana dentro da banheira da suíte de um famoso hotel e sauna gay, no Centro de São Paulo.
O caso é investigado inicialmente como “morte suspeita” a esclarecer pela Polícia Civil. Em princípio, segundo policiais ouvidos, até a última atualização desta reportagem não havia indícios de que tenha ocorrido um crime no local. Laudos periciais feitos no corpo vão apontar como ele provavelmente morreu. Os resultados dos exames devem ficar prontos nas próximas semanas.
Luiz, que tinha 34 anos e era técnico de enfermagem, foi encontrado sem vida na madrugada da última segunda-feira (18) dentro do Hotel Chilli, que fica no Largo do Arouche, região central da capital paulista.
Em sua página oficial no Instagram, o lugar informa ser um “Hot Hotel & Sauna”, “Só para homens maiores de 18 anos”, que funciona “24 horas” por dia e oferece “Drinks at Piroca´s Bar”. O Hotel Chilli está tratando o caso como um “acidente.” Ainda no seu site, o estabelecimento lamentou a morte do hóspede, sem citar seu nome, postou a frase “Sentimos muito e esperamos a compreensão de todos”.
Depois, confirmou que ele “foi encontrado caído dentro da banheira em uma das nossas suítes e, pelas imagens de segurança, parecia estar sozinho na hora do acidente”.
O hotel também informou que “em quase 12 anos no Largo do Arouche, esse é o terceiro óbito em nossos recintos”. O estabelecimento não dá detalhes de como as outras duas mortes ocorreram (leia abaixo a íntegra do comunicado).
O Gay1 também procurou o estabelecimento para comentar o assunto e aguarda um retorno.
O que diz o Hotel Chilli
“Nota de pesar
Lamentamos a morte de um hóspede nas dependências do nosso hotel na madrugada de domingo para segunda-feira. Ele foi encontrado caído dentro da banheira em uma das nossas suítes e, pelas imagens de segurança, parecia estar dozinho na hora do acidente. Em respeito à família e sempre prezando pelo sigilo achamos desnecessário divulgar o nome dele. Não tivemos acesso ao laudo dos peritos e portanto não temos maiores informações.
Em quase 12 anos no Largo do Arouche, esse é o terceiro óbito em nossos recintos. Reiteramos que estamos dentro de todas as normas de segurança vigentes. Possuímos o AVCB do Corpo de Bombeiros [Auto de Vistoria da corporação] atualizado e todos os equipamentos estão em pleno funcionamento.
Aos amigos e familiares nosso sincero respeito.
A Diretoria”
O que diz a SSP
O registro foi feito quase sete horas depois do encontro do corpo, no plantão do 2º Distrito Policial (DP), Bom Retiro. Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a investigação será feita pelo 3º DP, Campos Elíseos, responsável pelo região onde o caso ocorreu.
“O 3º Distrito Policial (Campos Elíseos) trabalha em busca de testemunhas e outros elementos que auxiliem nas investigações. Foram solicitados exames ao Instituto de Criminalística (IC) e ao Instituto Médico Legal (IML), cujos laudos estão em elaboração para auxiliar no esclarecimento da causa da morte”, informa nota divulgada nesta quinta-feira (21) pela pasta da Segurança.
O registro policial não informa, no entanto, quem acionou a corporação para atender a ocorrência e as circunstâncias de quem teria encontrado primeiro o corpo de Luiz. No documento aparece o nome de um homem, mas não tem a identificação de quem ele é.
Procurado pela reportagem para comentar a investigação, o delegado Alexandre Dias, titular do 3º DP, informou que um inquérito policial foi aberto, mas que a apuração seguirá com o Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
“Foi instaurado IP [inquérito policial], autoria desconhecida, será encaminhado ao DHPP para prosseguimento. Ainda não chegaram os laudos”, disse o delegado, que não respondeu, porém, quais são as possíveis hipóteses investigadas para tentar esclarecer a morte de Luiz.
De acordo com policiais ouvidos o fato de o caso seguir para o DHPP não significa sempre que ele será investigado como possível assassinato.
Meme ‘Cadê meu green?’
“Agora eu vou contar a trip de quando eu pedi um green pro [André] Almada [empresário]. Tudo começou na semana passada… que eu mandei um WhatsApp pra ele… pedindo, explicando a situação, pedindo um green [em menção ao green card que estrangeiros obtêm para ter trânsito livre nos Estados Unidos] pra ter acesso livre às festas e ao camarote da The Week”, diz Luiz no vídeo que ele fez em 2020, depois postou nas redes sociais, viralizando como meme na internet. Justamente pelo fato de o fundador da The Week, balada LGBT que existia à época, não dar o convite VIP a ele.
Desde então, surgiram piadas com a pergunta “Cadê meu green?”, usada entre LGBTs para brincar com a situação de quem quer entrar de graça numa balada. A frase virou até tema de algumas festas. Luiz, que tinha mais de 3.500 seguidores no seu Instagram, chegava a dizer que conseguiu economizar R$ 1 milhão por ganhar convites VIPs para baladas.
Ainda em 2020, ele se candidatou a uma das vagas de vereador em Guarulhos, cidade de Grande São Paulo. Concorreu pelo partido Rede Sustentabilidade, mas não se elegeu naquela ocasião. Conseguiu 42 votos. Naquele ano ele chegou a gravar um vídeo e postar nas suas redes sociais pedindo voto num lugar que dizia ser uma balada clandestina durante a pandemia de Covid.
“E começamos nossa campanha nas eleições municipais 2020. Que eu acredito que seja a mudança no Brasil na saúde, na corrupção e o início da mudança de tudo que tem que acontecer no nosso país. Numa festa clandestina, no meio do coronavírus, iniciamos nossa campanha: Luiz Carlos Lima 18800. Vota em mim”, diz ele na gravação.
Técnico em enfermagem
Luiz era técnico de saúde e também de enfermagem, segundo informou a prefeitura de Guarulhos por meio de nota. Procurada, a administração pública confirmou que ele chegou a trabalhar para o município até 2013. Depois atuou até 2020 num hospital da cidade.
“A Secretaria da Saúde de Guarulhos informa que Luiz Carlos Pereira de Lima era técnico em saúde, mas havia saído da Prefeitura há muito tempo. Seu último trabalho foi no Hospital Municipal de Urgências (HMU) cujo vínculo foi encerrado, após solicitar dispensa, em 27 de junho de 2013. Ele também trabalhou no Complexo Hospitalar Padre Bento (estadual) até 2020 como técnico de enfermagem”, informa nota da administração.