Filme ‘Filhas da Noite’, sobre mulheres trans, vence Festival de Brasília

"Com dez reais e um Big Big, metemos a cara para fazer um longa", diz diretora potiguar.

Filhas da Noite levou o troféu Candango. (Foto: Gustavo Alcântara/Reprodução/Instagram)
Filhas da Noite levou o troféu Candango. (Foto: Gustavo Alcântara/Reprodução/Instagram)

O longa-metragem ‘Filhas da Noite’, dirigido pela potiguar Sylara Silvério e pelo pernambucano Henrique Arruda, foi o grande vencedor da “Mostra Caleidoscópio” na 57ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O filme, que mistura ficção e documentário, celebra a trajetória de seis mulheres trans que marcaram época nas noites de Recife: Raquel Simpson, Sharlene Esse, Paloma Pitt, Márcia Vogue, Christiane Falcão e Suelanny Tigresa.

Mais do que resgatar memórias, o longa é uma homenagem à vida dessas performers, que seguem atuantes mesmo após décadas de carreira. “Não é só nostalgia. Falamos de seis mulheres trans e idosas que ainda estão na ativa”, explica Sylara, que dirigiu seu primeiro longa após se especializar em fotografia audiovisual e trabalhar em diversos projetos no audiovisual nordestino.

Uma celebração com as protagonistas

Estrelas do filme marcaram presença no Festival de Brasília. (Foto: VCTRDNZ)

As estrelas do filme marcaram presença no Festival de Brasília, emocionando o público. “Ver o público aplaudindo de pé foi incrível. Elas foram recebidas com tanto carinho que foi inesquecível”, conta Sylara. Raquel Simpson, uma das protagonistas, reforçou o impacto do projeto: “Esse filme vai além de nós. É um retrato de tantas outras espalhadas pelo Brasil.”

O projeto nasceu a partir do site Filhos da Noite, que inicialmente documentava histórias de homens gays idosos. Durante as filmagens, Sylara e Henrique perceberam a força das memórias das performers trans e decidiram transformar o material em um longa-metragem. Apesar das dificuldades financeiras, a dupla usou criatividade e parcerias para trazer o filme à vida. “Com dez reais e um Big Big, metemos a cara para fazer um longa”, brinca Sylara, destacando o apoio dos editais de cultura de Pernambuco.

Pernambuco como exemplo e o desafio no RN

A experiência de filmar em Pernambuco ressaltou para Sylara a importância de políticas públicas voltadas à cultura. Ela lamenta a falta de investimentos no Rio Grande do Norte, seu estado natal, e defende um fundo de cultura obrigatório. “O RN tem potencial para ser um polo cinematográfico, mas faltam incentivos para isso acontecer”, aponta a diretora.

A luta para chegar ao grande público

Filhas da Noite segue em exibição em festivais e tem previsão de estreia no circuito comercial em 2025. Sylara reconhece os desafios para levar o filme às salas de cinema, especialmente em cidades com menos opções culturais, como Natal. “A meta é alcançar todo o Nordeste. É uma luta, mas acreditamos no poder dessa história”, conclui a diretora.

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