Multidão em Londres protesta por direitos trans após decisão do Supremo britânico

Manifestantes criticam definição legal de mulher baseada no sexo biológico e alertam para impactos em serviços essenciais e aumento da discriminação.

Manifestantes marcham em direção à Praça do Parlamento, em Londres, na Inglaterra, em apoio aos 'direitos trans'. (Foto: Benjamin Cremel / AFP)
Manifestantes marcham em direção à Praça do Parlamento, em Londres, na Inglaterra, em apoio aos ‘direitos trans’. (Foto: Benjamin Cremel / AFP)

Milhares de pessoas se reuniram neste sábado (19), na praça do Parlamento em Londres, para defender os direitos das pessoas trans. O protesto ocorre dias após o Supremo Tribunal do Reino Unido decidir que, para efeitos legais, a definição de “mulher” deve ser baseada no sexo biológico — uma mudança que pode afetar diretamente o acesso de mulheres trans a espaços e serviços voltados ao público feminino.

Com cartazes como “As mulheres trans são mulheres” e “Pessoas trans não são o inimigo”, a maioria dos manifestantes tinha entre 20 e 30 anos e demonstrava preocupação com o impacto da decisão na vida de quem está em processo de transição ou já se identifica como transgênero.

Uma nova manifestação também está prevista para acontecer em Edimburgo, na Escócia, onde a tensão entre o governo local — defensor de legislações mais inclusivas para pessoas trans — e grupos feministas radicais culminou na disputa que chegou ao Supremo.

Manifestantes marcham em direção à Praça do Parlamento, em Londres, na Inglaterra, em apoio aos ‘direitos trans’. (Foto: Benjamin Cremel / AFP)

Medo de retrocessos e exclusões

Apesar de o tribunal britânico afirmar que a decisão não anula as proteções legais contra discriminação e assédio de pessoas trans, especialistas e ativistas temem efeitos concretos em serviços como abrigos, centros de saúde, clubes esportivos e espaços voltados ao público feminino.

Joe Brown, mulher trans de 29 anos em processo de transição, expressou preocupação:

“Tudo na minha transição será mais complicado. As crianças trans vão ter ainda mais medo de se assumirem. E temo que a gente perca o acesso à saúde”, disse à imprensa.

A manifestação foi organizada por grupos de defesa dos direitos LGBTQIA+, incluindo o Pride in Labour, cujo copresidente, Avery Greatorex, destacou a urgência da mobilização:

“É preciso pressionar o governo e a população para garantir os direitos das pessoas trans. Não é apenas uma questão política — é uma questão de dignidade e sobrevivência.”

Divisão de opiniões e reação política

A decisão foi comemorada por algumas ativistas feministas que alegam que reconhecer legalmente mulheres trans nos mesmos espaços que mulheres cis pode representar riscos à segurança e privacidade destas últimas. No entanto, participantes do ato em Londres rechaçaram essa visão como excludente e prejudicial.

“Isto não é feminismo, é intolerância”, dizia um dos cartazes erguidos na manifestação.

O governo britânico, liderado por uma coalizão de centro-esquerda, afirmou que a decisão do Supremo “traz clareza para as mulheres e para os provedores de serviços hospitalares, refúgios e clubes esportivos”. Ainda assim, críticos argumentam que a medida representa um retrocesso na luta pelos direitos das pessoas trans e pode estimular mais exclusão e estigmatização social.

A mobilização em Londres reflete o crescente embate no Reino Unido — e em várias partes do mundo — sobre o reconhecimento legal das identidades trans e os limites entre inclusão e disputas por espaço. Para muitos dos presentes, o recado era claro: a luta por direitos iguais não pode recuar.

*Com informações France Presse

Sair da versão mobile