São Paulo

Crianças trans ocupam Parada LGBT+ de São Paulo e reforçam luta contra preconceito

ONG Crianças Trans Existem realiza oficina de cartazes e enfrenta novos ataques da extrema direita, enquanto reforça a importância da visibilidade e do respeito às infâncias trans.

Crianças trans desenham cartazes durante a 29ª Parada LGBT+ de São Paulo. (Foto: Reprodução/Instagram)
Crianças trans desenham cartazes durante a 29ª Parada LGBT+ de São Paulo. (Foto: Reprodução/Instagram)

Em meio à multidão que coloriu a Avenida Paulista neste domingo, um momento tocou o coração de quem passava pelo local: sentadas no asfalto, crianças trans desenhavam cartazes com frases como “Protejam nossas crianças trans” e “Pessoas trans não nascem com 18 anos”. A atividade foi promovida pela ONG Crianças Trans Existem, que há três anos ocupa a Parada do Orgulho LGBT+ para lembrar que a luta por direitos e dignidade começa ainda na infância.

Identificado por um estandarte com as cores azul, rosa e branca — que simbolizam a causa trans — o grupo, fundado por Thamirys Nunes, volta às ruas num momento em que enfrenta ataques ainda mais intensos. “A gente está aqui desde 2022, e em 2023 sofremos uma onda enorme de críticas e preconceito, mas este ano está sendo ainda pior. Eles tentam nos calar não apenas na internet, mas também por vias extrajudiciais”, afirma a ativista.

A ONG tem sido alvo frequente da extrema direita. Políticos como a vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) chegaram a questionar publicamente a presença do grupo e a própria existência de crianças trans. Já o ex-presidente Jair Bolsonaro declarou recentemente que “não existem crianças trans, existem pais irresponsáveis”.

Luta por dignidade e reconhecimento

Crianças trans durante a 29ª Parada LGBT+ de São Paulo. (Foto: Reprodução/Instagram)
Crianças trans durante a 29ª Parada LGBT+ de São Paulo. (Foto: Reprodução/Instagram)

Em cima do trio que conduzia a Parada, Thamirys Nunes fez um discurso para a multidão: “Essa direita quer dizer que os nossos filhos não existem. Estamos aqui para lutar contra isso e contra uma agenda que tenta apagar a nossa visibilidade e o direito das nossas famílias.” Ela também citou medidas institucionais que impactam a comunidade trans, como a resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que proibiu o bloqueio hormonal para adolescentes trans.

A própria Nunes é mãe de uma menina trans que, aos 3 anos, já manifestava disforia de gênero. Ela lembra que enfrentou discriminação desde muito cedo — viu escolas recusarem a matrícula da filha e até buffets negarem festas infantis. “Era uma família extremamente conservadora. Eu mesma não entendia o que era ser trans, mas percebi que precisava ouvir a minha filha e dar a ela uma chance de ser feliz.”

Direitos, saúde e visibilidade

Crianças trans durante a 29ª Parada LGBT+ de São Paulo. (Foto: Reprodução/Instagram)
Crianças trans durante a 29ª Parada LGBT+ de São Paulo. (Foto: Reprodução/Instagram)

Ao longo da Parada, o grupo Crianças Trans Existem buscou reforçar que as infâncias trans devem ter o direito à dignidade, ao respeito e à escuta profissional. Segundo Nunes, nenhuma criança passa por tratamentos irreversíveis: “Tudo o que é proposto para adolescentes trans tem acompanhamento especializado e busca reduzir o sofrimento e a disforia, sempre com muito cuidado e carinho.”

Esse cuidado, reforça Nunes, é o que dá a essas famílias a força para seguir na luta contra o preconceito e a invisibilidade. Recentemente, a própria ONU recomendou que o Brasil reconheça legalmente a existência de crianças trans e adote medidas para garantir o respeito à sua identidade de gênero.

Enquanto o debate público segue inflamado, Nunes conclui que o mais importante agora é garantir que essas vozes jovens não sejam caladas: “Persistimos aqui para que nenhuma criança trans precise duvidar que merece viver feliz e livre.”

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