Dupla é presa por usar Grindr para atrair e extorquir gays; vítimas eram algemadas
Suspeitos atraíam vítimas para uma rede de roubo, extorsão e estelionato. Polícia alerta para os perigos em encontros online.

Dois homens, de 34 e 37 anos, foram presos nesta semana em Guarujá, no litoral de São Paulo, suspeitos de liderar uma sofisticada rede de crimes que incluía roubo, extorsão e estelionato. A dupla utilizava aplicativos de relacionamento, como o Grindr, e de locação de imóveis para atrair e enganar suas vítimas, com um foco especial em gays.
De acordo com o delegado titular da Delegacia Sede de Guarujá, Glaucus Vinícius Silva, as prisões de Yuri Phelipe Nobre Pereira, 34, e Wesley Nicolas Alves de Sousa, 37, são o resultado de dois meses de investigações intensas, iniciadas a partir das denúncias de pelo menos quatro vítimas.
Modus Operandi: Da Sedução à Extorsão
As investigações revelaram uma clara divisão de tarefas na organização criminosa. Yuri Phelipe era o “braço executor”, responsável pelo contato direto com as vítimas. Segundo o delegado, ele marcava encontros com homens através de um aplicativo de relacionamento. No local combinado, utilizando uma arma falsa, anunciava o assalto, roubando os pertences sob ameaça. Em um dos casos relatados, uma vítima chegou a ser algemada antes de ser liberada.

Quando a violência não era o primeiro recurso, Yuri adotava uma abordagem de sedução. “Ele seduzia a pessoa e praticava o encontro sexual. Depois, tomava os pertences da pessoa e praticava a extorsão, ameaçando divulgar aquilo publicamente através das redes sociais”, explicou o delegado Silva. Para aumentar o poder de intimidação, o suspeito utilizava fotos e informações compartilhadas pelas próprias vítimas. “Ele escolhia bem o perfil das vítimas para justamente ter poder de extorsão em cima das pessoas, para poder humilhar. Ele é um camarada sórdido”, relatou a autoridade policial.
Enquanto isso, Wesley Nicolas atuava como o cérebro da operação, cuidando da articulação intelectual e documental dos crimes.
Golpe Imobiliário e a Conexão dos Crimes
Além dos golpes amorosos, a dupla praticava estelionato contra proprietários de imóveis. Eles alugavam propriedades de grande porte, como pousadas, mas não efetuavam o pagamento aos donos. Em seguida, sublocavam os espaços para terceiros em contratos de curta ou longa temporada, embolsando os valores. “Quando eles percebiam que estavam na iminência de sofrer algum ataque na Justiça ou na delegacia, iam embora, abandonavam tudo”, afirmou o delegado.
A polícia conseguiu conectar os dois esquemas criminosos ao descobrir que Yuri levava as vítimas dos aplicativos de relacionamento para os mesmos endereços usados nos golpes imobiliários, unindo as duas frentes de atuação da dupla.
Prisão e Alerta
Os mandados de prisão temporária foram cumpridos na terça-feira (1º), em uma pousada que os suspeitos haviam alugado. Segundo a polícia, a dupla confessou os crimes no momento da detenção.
Com a quebra do sigilo dos aparelhos eletrônicos dos investigados, autorizada pela Justiça, a Polícia Civil já identificou novas vítimas, inclusive no interior do estado, e trabalha agora para localizá-las.
O delegado Glaucus Vinícius Silva fez um alerta à população sobre os cuidados necessários ao usar a internet. “Tome cuidado com rede social, com a exposição de dados, com marcar encontros através de aplicativos, que isso é muito perigoso”, aconselhou. Ele também destacou a crescente violência empregada pelos criminosos. “Se não fossem presos agora, provavelmente não ia demorar muito para ter morte. Demonstram muita periculosidade pela falta de empatia pela vida humana”, concluiu.
Até o momento da publicação desta reportagem, a defesa dos suspeitos não foi localizada para comentar o caso.