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Cientistas registram ‘abraço nupcial’ inédito entre pererecas machos de espécies diferentes

Comportamento foi observado na Mata Atlântica e revelou um novo tipo de 'canto de soltura', que pode ajudar na identificação da espécie.

Machos das espécies 'Boana albomarginata' e 'Boana raniceps' em 'abraço nupcial'. (Foto: Rodrigo Baltar da Silva/Divulgação)
Machos das espécies ‘Boana albomarginata’ e ‘Boana raniceps’ em ‘abraço nupcial’. (Foto: Rodrigo Baltar da Silva/Divulgação)

Pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) registraram um comportamento inédito na natureza: um “abraço nupcial” entre dois machos de espécies diferentes de pererecas. O flagra, envolvendo indivíduos das espécies Boana albomarginata e Boana raniceps, ocorreu em uma área de Mata Atlântica em São Lourenço da Mata, no Grande Recife, em março deste ano.

O comportamento, conhecido cientificamente como amplexo, é um abraço que o macho realiza na fêmea para dar início ao processo reprodutivo. No entanto, durante o trabalho de campo, os cientistas do Laboratório de Estudos Herpetológicos e Paleoherpetológicos (LEHP) constataram que ambos os animais eram do sexo masculino, pois o indivíduo que recebia o abraço também possuía um saco vocal, uma estrutura exclusiva dos machos. Embora já existam registros de machos que confundem parceiros, esta foi a primeira vez que o fenômeno foi observado entre essas duas espécies.

Durante a interação, que durou cerca de 30 minutos, os pesquisadores notaram que o espécime de B. raniceps emitia um som. “Essa vocalização é um canto de soltura. Esse canto específico é um canto realizado para negar o amplexo reprodutivo, ou seja, era basicamente o sapo dizendo: ‘pera aí, não, eu não quero isso'”, explicou o pesquisador João Cunegundes, que integra a equipe. A novidade foi que a vocalização emitida possuía padrões e estatísticas diferentes dos já registrados para a espécie, o que pode, no futuro, servir como um “marcador taxonômico” para ajudar na identificação do animal.

Degradação ambiental pode ser uma das causas

A pesquisa, que resultou em um artigo científico publicado na Open Access Library Journal em julho, também discute as possíveis causas para o comportamento. Uma das hipóteses levantadas é a degradação ambiental. “Pelo fato de a degradação ambiental afetar as comunidades, a diminuição das fêmeas pode fazer isso”, pontuou Cunegundes. Outros fatores, como a má visão dos animais, também podem contribuir.

Esse tipo de interação, embora não seja diretamente prejudicial, representa uma desvantagem para os machos, que gastam energia em uma tentativa de cópula sem sucesso e se tornam mais vulneráveis a predadores. “É uma desvantagem, porque o animal vai estar gastando energia ali, sendo que não vai ter essa reprodução”, concluiu o pesquisador.

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