Em 2011, novelas refletiram luta por visibilidade e direitos LGBT no Brasil
Em um ano que o deputado Jair Bolsonaro e outros militantes da “anti-causa gay” como o pastor Silas Malafaia ganharam visibilidade pelo discurso refratário ao reconhecimento dos direitos de lésbicas. gays, bissexuais, travestis e transexuais, as novelas tentaram de várias formas levar ao público o debate sobre a homofobia.
Mais uma vez, no entanto, não foram as produções da Globo as mais ousadas na abordagem do tema. “Amor e Revolução”, escrita por Tiago Santiago para o SBT, levou ao ar a primeira cena de beijo entre as personagens de Luciana Vendramini e Gisele Tigre. Não era selinho. E por isso mesmo chocou os anunciantes, que ameaçaram retirar patrocínio caso a emissora veiculasse outra cena do tipo, dessa vez entre os atores Lui Mendes e Carlos Arthur Thiré.
Já “Vidas em Jogo”, de Cristianne Fridmann, deu picos de audiência ao revelar o segredo da personagem Augusta (Denise Del Vecchio): era uma transexual. Em entrevista, a autora disse que o tema seria tratado de maneira contundente. O filho de Augusta tentaria interditá-la como “doente mental” para tomar conta de todos os seus bens, já que a personagem ficara milionária ao ganhar na loteria.
Enquanto LGBTs eram agredidos na região da avenida Paulista, em São Paulo, “Insensato Coração”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, levou às telas da TV Globo o maior núcleo gay da história da teledramaturgia para discutir de forma incisiva a violência contra LGBTs, o processo de “saída do armário”, a união civil (que pelo menos na ficção já é uma realidade) e o esforço de um homofóbico assumido em aceitar o filho homossexual.
O que chocou, no entanto, foi a cena em que o menino Gilvan (Miguel Roncato) é espancado e morto por um bando de “pit boys”. Não tanto pela cena em si, mas pelas manifestações de apoio vindas de internautas de todo o país. Em enquete realizada pela repórter Thays Almendra, a maioria dos entrevistados afirmou que era mais chocante ver um beijo gay do que um homossexual ser espancado. Se foi efeito da teledramaturgia ou não, o fato é que durante a exibição de “Insensato” o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu as uniões entre pessoas do mesmo sexo, embora o tema ainda patine no Congresso Nacional.
Apesar de toda a discussão acerca de preconceito, LGBTs mais populares da ficção em 2011 foram os caricatos Crô, de Marcelo Serrado em “Fina Estampa”, e Áureo, de André Gonçalves em “Morde & Assopra”. Criticados pelos ativistas do movimento LGBT por supostamente acentuarem o conceito da “bicha pintosa”, aceita socialmente sempre como motivo de chacota ou, ainda, por “não refletirem a realidade” de LGBTs, Crô e Áureo, ou melhor, André e Marcelo, afirmam receber inúmeras manifestações de carinho nas ruas.
Na verdade, esse tipo de afirmação apenas reflete um preconceito existente entre os próprios LGBTs em relação aos afeminados. Qualquer pessoa que frequente a rua Vieira de Carvalho no centro de São Paulo vai perceber que as “pintosas” existem sim e também merecem ser aceitas, nem que seja pelo humor, pois se Crô e Áureo não aprofundam nas questões dos direitos civis, pelo menos promovem algum tipo de tolerância, não a ideal, já que esse papel não cabe à novela, mas ao Congresso.
POR JAMES CIMINO