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Vítima de agressão em Piracicaba diz que apanhou de GMs por ser travesti

Lilica foi agredida em matagal após reclamar de demora em pronto-socorro.
ONG informou que acompanhará caso; corporação investiga procedimento.

Do Gay1 SP

Lilica mostra ferimento nas costas causado pela agressão (Foto: Luiz Felipe Leite)Lilica mostra ferimento nas costas causado pela agressão (Foto: Luiz Felipe Leite)
A autônoma Lilica, de 30 anos, disse em entrevista nesta quinta-feira (17) que foi agredida por dois guardas municipais de Piracicaba (SP) por ser travesti. A vítima foi detida após reclamar da demora no atendimento em um pronto-socorro municipal. Lilica espera ser intimada para reconhecer os agressores.

Lilica relatou ao site G1 que acompanhava uma amiga no pronto-socorro da Vila Cristina, no último domingo (13), quando a agressão aconteceu. “Essa minha amiga estava com dores no estômago e a acompanhei para dar apoio. Depois reclamamos da demora no atendimento e, do nada, surgiram os guardas”, contou.

De acordo com a vítima, os guardas a colocaram em uma viatura sem justificar o motivo. “O tempo todo perguntei porque faziam aquilo, mas não diziam nada. Quando percebi que estavam me levando para um matagal, pensei que fosse morrer.” Lilica disse que foi levada para uma área verde próxima a uma estrada municipal que liga o Centro ao distrito de Anhumas.

Ao chegarem no local, os guardas tiraram Lilica da viatura e a agrediram com socos e chutes na costela. “Um deles ficava falando ‘vamos matar, vamos matar’ e o outro respondia ‘deixe quieto, pois não vale a pena gastar bala com esse tipo de gente’. Enquanto isso, eu rezava para me deixarem em paz”, explicou.

A travesti, que assumiu sua sexualidade aos 12 anos de idade, disse que foi abandonada no matagal e que andou até chegar a um orelhão, de onde acionou a Polícia Militar. “Fui levada para o pronto-socorro da Vila Cristina, onde tudo começou, para ser examinada. Em seguida fiz boletim de ocorrência. Tive sorte de não ter acontecido nada mais grave comigo”, falou.

Lilica disse que não fez exame de corpo delito, procedimento padrão da Polícia Civil após qualquer tipo de agressão. “Falaram para eu ir para casa e esperar a intimação para reconhecer os guardas, o que ainda não aconteceu”, afirmou.

A vítima relatou ter sofrido transfobia pela sua identidade de genero desde a adolescência, mas em nenhuma vez havia passado por algo parecido. “Quero ser ouvida para falar o que aconteceu. Assim posso ajudar para isso não acontecer com mais ninguém. Quero justiça”, contou.

A Guarda Civil Municipal informou que investiga a denúncia de agressão (Foto: Fernanda Zanetti)A Guarda Civil Municipal informou que investiga a denúncia de agressão (Foto: Fernanda Zanetti)
Resposta da Guarda
A Guarda Civil de Piracicaba, por meio de assessoria de imprensa, informou que só vai se pronunciar novamente sobre o caso quando a investigação da corporação terminar. Em nota enviada nesta quinta, a Guarda apenas informou o procedimento de apuração da denúncia.

“A Guarda encaminha os documentos à Ouvidoria. Esta, por sua vez, inicia os procedimentos administrativos ouvindo a vítima, os indiciados e testemunhas. Se houve transgressão disciplinar, a Ouvidoria encaminha o processo para a Procuradoria Geral, que deverá abrir processo administrativo.”

Ong Casvi
O coordenador geral da organização não governamental (ONG) Centro de Apoio e Solidariedade à Vida (Casvi), Anselmo Figueiredo, disse desconhecer o caso, mas que o acompanhará a partir de agora. “Independente da opção(sic) sexual, a posição dos guardas nesse caso foi absurda. Isso não é postura de policial. A Lilica não nos procurou, mas cobraremos as autoridades competentes sobre o acontecido”, disse.

Projeto de lei
Um projeto de lei, elaborado pela vereadora Madalena (PSDB) em parceria com a ONG Casvi, prevê multa de cinco a dez salários mínimos em caso de discriminação sexual em Piracicaba. A proposta ainda não foi protocolada no Legislativo porque o grupo pretende discutir a viabilidade da matéria com o prefeito Gabriel Ferrato (PSDB) e com a bancada tucana na Câmara. A divulgação do texto ocorreu nesta quarta-feira (16) no Legislativo.

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