Foto: GABRIEL BOUYS / AFP
Papa Francisco acena para a multidão antes de uma audiência na Praça de São Pedro, no Vaticano.
O Vaticano está pedindo que bispos e párocos do mundo todo expressem as opiniões locais sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo, divórcio e controle da natalidade, numa pesquisa preparatória para um sínodo em 2014 que discutirá a reação entre os ensinamentos católicos e a família.
Esse tipo de levantamento é comum antes dos sínodos (reunião geral de bispos), mas esse questionário em especial demonstra uma maior sensibilidade com questões outrora consideradas tabu para a Igreja, como a maneira pela qual a instituição pode incluir crianças adotadas por casais do mesmo sexo.
O questionário foi enviado aos bispos em 18 de outubro, acompanhado de uma carta do arcebispo Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do sínodo. A carta e o questionário foram divulgados na quinta-feira no site da publicação National Catholic Reporter, e tiveram seu teor confirmado na sexta-feira pela Santa Sé.
“Preocupações que eram inauditas até alguns anos atrás surgiram hoje como resultado de diversas situações, da prática disseminada da coabitação (…) às uniões entre pessoas do mesmo sexo que, não raramente, são autorizadas a adotarem crianças”, diz um prólogo da pesquisa.
A pesquisa não necessariamente prenuncia uma mudança na doutrina da Igreja Católica a respeito do casamento do mesmo sexo ou do controle da natalidade, mas ela é mais um sinal de que o papa Francisco quer se aproximar dos católicos comuns em questões relacionadas à família contemporânea.
Em entrevista publicada em setembro, o pontífice disse que a Igreja deveria deixar de lado sua obsessão contra o aborto, a contracepção e a homossexualidade, para se tornar mais misericordiosa, sob risco de ver desabar todo o seu edifício moral, “como um castelo de cartas”.
As perguntas demonstram uma preocupação em preparar melhor os jovens para o casamento, sobre a eficácia dos métodos naturais de controle da natalidade e sobre como apoiar a “jornada de fé” de pessoas divorciadas que voltam a se casar e são assim excluídas dos sacramentos.
No entanto, há menos de duas semanas o Vaticano confirmou que católicos que voltam a se casar após o divórcio não podem comungar.
A pesquisa pergunta qual “atenção pastoral” se deve dar aos que optam por viver em uniões homoafetivas, e, no caso desses casais que adotam filhos, “o que pode ser feito pastoralmente à luz da transmissão da fé”.
Na Inglaterra, bispos colocaram a pesquisa na internet, para que todos, inclusive leigos, possam responder.
Os resultado da pesquisa serão incluídos em um documento de trabalho do sínodo extraordinário de outubro de 2014.