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Por que é importante oferecer diferentes opções de gênero no Facebook

POR GABRIELA SILVA LOUREIRO

Foto: Reprodução

Há várias opções.

Apartir desta segunda-feira, o Facebook disponibilizou no Brasil 17 opções diferentes de gênero em seu perfil, além da possibilidade de as pessoas escolherem livremente com qual gênero elas querem ser identificadas na rede social – e quem poderá ver essas definições (visualização pública, privada ou personalizada). Agora, também é possível definir com qual pronome as pessoas preferem ser chamadas: feminino, masculino ou neutro, para os casos em que o Facebook avisa “2 pessoas curtiram a foto que em você foi marcada” ou “Deseje-lhe feliz aniversário!”.

O líder de políticas públicas do Facebook Brasil, Bruno Magrani, disse que a mudança é necessária para que as pessoas se expressem com liberdade. “Nosso principal objetivo é dar às pessoas uma maneira de se expressarem de forma autêntica, assim, nossa intenção é que não seja algo estático, mas que acompanhe as mudanças e as necessidades da nossa comunidade”, explica.

Pode ser difícil entender por que isso é importante para quem está afastado do debate sobre identidade de gênero. A importância é: reconhecimento da existência e possibilidade de autodeterminação. O que trangêneros buscam há algum tempo é que todos reconheçam que elxs (pronome neutro) existem, e é isso o que o Facebook faz ao oferecer opções não binárias de sexo.

Existem diferentes identidades ligadas à sexualidade. Uma delas é a sexual, que está ligada ao aparelho genital de cada um. Há também a identidade de gênero, que é uma construção social ligada ao masculino e ao feminino. Uma não necessariamente depende da outra. O seu sexo biológico (macho ou fêmea) pode não bater com o conceito de gênero que você se identifica (homem, mulher ou outro). O que a transexualidade mostra é que a sexualidade humana é muito diversa para separá-la em duas caixas (homens e mulheres) com base em seus órgãos genitais. A luta dos transgêneros é de, em primeiro lugar, poder determinar com independência qual é sua identidade, e não o sexo biológico atribuído a eles e elas no nascimento, e ser reconhecidx por isso.

Fernando Dantas Vieira, transgênero e blogueira no site Os Entendidos, acredita que a medida do Facebook é um avanço simbólico. “O Facebook é um espaço importante para muitas pessoas, de interação, de conhecer novas pessoas. Então, a partir de hoje, podemos deixar em nossos perfis quem somos, qual o nosso gênero. São pequenas demandas de existência. As pessoas trans lutam também pela existência”, explica.

No entanto, Fernando também vê algumas limitações na forma como as 17 opções de gênero foram oferecidas. Uma delas é o fato das diferentes possibilidades de gênero estarem no campo “sexo”, um erro conceitual. “Ou seja, ele mistura as noções de ‘sexo’ e ‘gênero’, como se o gênero, fosse uma escolha de personalização do sexo”, diz. A escolha mais adequada seria um outro campo denominado “gênero”, segundo Fernando.

Outra questão é o uso do pronome neutro, que acaba perdendo a neutralidade porque em nossa gramática o pronome masculino é o pronome neutro. O Facebook trocou “Hoje é aniversário de Fulano. Escreva na linha do tempo dele” por “Deseje-lhe feliz aniversário”. De acordo com Fernando, o “lhe” ainda refere-se a “ele”, ou seja, continua masculino. Para ele, o ideal seria reformular algumas formas de enunciação. Trocar “Você foi marcado” por “Marcaram você” ou “Fulano tem 32 amigos em comum com você” por “Há 34 contatos em comum com você”.

Apesar das críticas, vale mencionar que, no Brasil, os grupos de defesa dos direitos dos cidadãos LGBT ajudaram no desenvolvimento da funcionalidade para definir gênero, incluindo Jean Wyllys, deputado do PSOL que propôs na Câmara dos Deputados um projeto de lei que garante o reconhecimento de diferentes identidades de gênero e regulamenta intervenções cirúrgicas e tratamentos hormonais. Em um vídeo postado em seu Facebook, Jean Willys disse que a funcionalidade, disponível em outros nove países, é um grande avanço para a conquista da cidadania LGBT.

Para quem quiser entender melhor como a linguagem influencia a identidade de gênero, a secretaria de políticas para as mulheres do governo do Rio Grande do Sul elaborou o Manual Para Uso Não Sexista da Linguagem, que explica o gênero na gramática.

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