Foto: BBC
‘Eu não sabia que era gay quando estava na escola secundária, nos anos 1990’, diz o professor Daniel Gray.
O professor Daniel Gray nunca tinha falado sobre a sua sexualidade em sala de aula. Mas, para marcar o Mês da História LGBT, que é comemorado durante fevereiro na Grã-Bretanha, criou coragem e contou para mais de mil estudantes que é gay.
“Eu não sabia que era gay quando estava na escola secundária mas, nos anos 1990 parecia que todo mundo em Basingstoke (cidade no sudeste da Inglaterra) sabia”, diz.
“Sofri bullying todo santo dia. Era chamado de nomes homofóbicos, era seguido por gangues de garotos, empurrado nos corredores”, diz o professor, de 32 anos, que vive atualmente em Brighton, na costa sul inglesa, e leciona em Londres.
“Havia um menino na escola que era assumidamente gay e também sofria bullying. Mas quando fomos falar com a professora, ela disse que aquilo era algo que tínhamos de aturar”.
‘Endireitar alguns erros’
Daniel conta que sonhava em ser professor ou um astro pop: “Acabou que ser professor foi o sonho mais realista”.
“Eu acreditava que podia voltar para uma escola e, com a minha experiência, endireitar alguns erros”, completa.
Quando estava na universidade, Daniel descobriu que, nas festas de fim de semestre, encontrava muitas pessoas que eram LGBTs e sentia bem, de “uma forma que nunca tinha experimentado antes”.
O primeiro trabalho como assistente de professor foi em 2008.
Daniel estava tranquilo em relação à sua sexualidade, até ouvir o conselho da professora que o treinava:
“Ela foi categórica ao dizer que não revelasse nada aos alunos porque ‘você não quer dar mais munição para os estudantes'”.
“Quando comecei a trabalhar (como professor) numa escola católica bem tradicional, fiquei quieto. Na escola seguinte, meus colegas sabiam que eu era gay, mas não os estudantes – embora alguns provavelmente soubessem”.
‘Foi instintivo’
Há dois anos e meio, Daniel Craig começou a trabalhar na Harris Academy, no sul de Londres.
“Nunca achei que ser homossexual fosse um problema, mas as palavras da professora que me treinou continuavam comigo”, explica.
“Eu tinha ouvido falar só de uma pessoa que havia se assumido numa escola, um professor e ativista chamado David Weston, mas não segui o exemplo dele”.
Foi assim até o dia em que Weston participou de um treinamento na escola em que Daniel ensinava.
“O treinamento não tinha nada a ver com questões LGBT, mas eu me lembrava dele. Foi instintivo. Era algo que eu sentia que tinha de fazer”.
Estava chegando o Mês da História LGBT e o colégio tinha um novo diretor. “Pensei: ‘essa é a minha chance'”, diz Daniel.
“Achei que eu tinha que sair e lutar. O diretor abraçou minha iniciativa e disse que queria endossá-la junto com todos os funcionários”, lembra.
“Era isso. Eu ia contar para mais de mil adolescentes que era gay”.
Foto: Daniel Gray
No Mês da História LGBT, festejado em fevereiro na Grã-Bretanha, a escola em que Gray leciona hasteia a bandeira do arco-íris hasteada no seu átrio.
O grande dia
Daniel Craig lecionava em dois lugares diferentes e, como não podia estar em ambos simultaneamente, resolveu fazer um vídeo.
“Falei sobre o Mês da História LGBT e de todas as coisas que a escola estava fazendo para comemorá-lo pela primeira vez”.
“Olhei diretamente para a câmera e disse: ‘Como homossexual, sei o quanto é importante ter modelos positivos’.”
Chegou o momento de mostrar o vídeo aos alunos em duas reuniões de alunos e professores. “Não sei nem como descrever meu estado de nervos”, admite.
“De repente, lá estava eu na tela. Estava feito”.
“Eu não queria que fosse uma grande façanha, só que as pessoas soubessem que eu estava ali e aceitassem aquilo como algo normal. O fato de ter um professor assumidamente gay nas suas vidas podia fazer uma grande diferença”, esclarece.
Quando a reunião acabou, um aluno se aproximou dele.
“Ele não tinha estudado comigo. Parecia muito nervoso e um pouco tímido. Mas tinha algo a dizer”.
Daniel lembra que o estudante disse apenas que aquele conselho de classe tinha mudado a sua vida e foi embora.
“Naquele momento, naquele único instante, bem ali, me lembrei da minha razão de ser professor”.
‘High five’
“Outro estudante disse: ‘Oh, meu Deus’ e me cumprimentou com um high five. Eu não podia imaginar aquilo”, prossegue.
Mas nem tudo foi só alegria: “Recebemos uma queixa de pais e talvez haja mais reclamações”.
“O que achei especialmente comovente foi o apoio dos colegas que chegaram a fazer cartazes em apoio aos direitos LGBT depois daquela reunião.”
O colégio onde Daniel ensina é parte de uma federação que reúne 41 escolas primárias e secundárias na capital britânica e arredores. Agora, com o apoio de seu supervisor, ele dará palestras nas outras escolas sobre como realizar iniciativas parecidas.
Nick Soar, diretor-executivo da Harris Federation Teaching School Alliance, permitiu que a bandeira do arco-íris fosse hasteada nas escolas do grupo.
“Quando Daniel me perguntou se poderíamos apoiar o mês LGBT, eu senti que havia chegado o momento de deixar claro para os funcionários, estudantes e todas as famílias que eu queria eliminar a homofobia e, mais amplamente, todas as formas de preconceito e ódio.”
O professor diz ainda que “ao sair do armário para os alunos, eles puderam ver que o Mr. Gray que sempre conheceram não é diferente de ninguém. Eles também sabem que, se estiverem divididos ou precisarem de apoio, têm com quem contar”.
Há algo que Daniel Gray mudaria nessa história?
“Eu não esperaria mais nove anos para fazer isso”.