‘Fiquei em choque’, diz Miss Amapá Gay após ter coroa arrancada por concorrente

Jorge Abreu
Foto: Divulgação/Miss Amapá Gay 2017Transformista Lívia Miller vai representar o Amapá no Miss Brasil Gay.

O que era para ser um momento de muita alegria e emoção virou uma situação constrangedora para a Miss Gay Lívia Miller, de 23 anos, que foi eleita Miss Amapá Gay 2017. Ela teve a coroa arrancada pela concorrente Raíssa “Jooh” Santos, de 19 anos. O episódio ocorreu após o anúncio da vencedora do concurso, na terça-feira (26), no Teatro das Bacabeiras, em Macapá.

“No início, fiquei em choque. Foi uma atitude nada agradável tanto para mim, quanto para o público. Ali não estamos só para mostrar beleza ou concorrer ao título, estamos lá para correr atrás de nossos direitos. Temos que respeitar para exigir respeito”, lamentou a miss.

Apesar do ocorrido, Lívia Miller disse que perdoou a colega. O concurso foi transmitido ao vivo pelo Facebook de uma espectadora. A cena inusitada gerou repercussão em vários perfis e páginas na internet. Nas imagens, Jooh se aproxima por trás da miss, tira a coroa e a joga no chão; em seguida, gesticula e sai do palco.

Lívia vai realizar o sonho de representar o estado no Miss Brasil Gay, que ocorrerá em Juiz de Fora (MG), ainda sem data definida. Ela conta que foi o quarto ano consecutivo que concorreu ao título, e associa a vitória na melhora de todos os quesitos em que recebeu críticas nas edições anteriores.

“Esse título representa para mim um sonho. Eu foquei e me dediquei muito no meu objetivo. Este foi o quarto ano que disputo o concurso. O resultado veio através do meu esforço e também da minha equipe e família. Todos ficaram muito felizes” ressaltou.

Defesa

Representante do município de Calçoene, a estudante Jooh Santos disse que não conseguiu segurar a insatisfação do resultado. Ela se sentiu lesada pela avaliação dos sete jurados e alegou que a miss eleita não cumpriu todos os itens exigidos no regulamento.

Foto: Kesiane Santo/Arquivo PessoalCandidata Raíssa Jooh Santos não aceitou a derrota.

“Eu tive aquela atitude porque achei uma injustiça com as outras candidatas, inclusive comigo. A que ganhou não comparecia nos compromissos marcados pela coordenação do concurso. Ela faltava nos ensaios, sendo que no regulamento dizia que todas eram obrigadas a comparecer aos compromissos. Isso não ocorria por parte dela”, explicou.

De acordo com o coordenador do Miss Amapá Gay 2017, Kleber Neves, a candidata Jooh causou transtorno durante todo o período de preparação para a disputa. A estudante nega as acusações. Neves acredita que a candidata teria arrancado a coroa da campeã por não ter ficado entre as seis melhores colocadas.

“Eu já tinha pedido para a representante de Calçoene deixar o concurso. Ela estava dando trabalho, e se envolveu em situações e brigas com outras candidatas. Parecia que a confusão tinha parado quando ameacei tirar ponto de quem continuasse”, falou Neves.

A banca de jurados foi formada por duas pessoas de outros estados, sendo um deles a vencedora da 37ª edição do Miss Brasil Gay, Guiga Barbieri. Foram avaliados os quesitos beleza, desembaraço, desfile, trajes de noite e típico, transformação e conjunto.

Foto: Jorge AbreuCoroa ficou torta depois que foi arrancada da vencedora e jogada no chão.

As premiações foram em valores simbólicos em dinheiro e brindes até a terceira colocação. Outros títulos foram dados durante a programação, como Miss Simpatia, Miss Popularidade e Miss Fotogenia.

Estiveram inscritas 16 candidatas, cada uma representando um município do Amapá, mas apenas 12 chegaram até a cerimônia. Alguns desistiram por falta de patrocínio, segundo a coordenação.

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Da periferia à passarela

Lívia Miller, criação do cabeleireiro Patrick Vasconcelos, mora em Santana e representou o município que é o segundo maior do estado, a 17 quilômetros de Macapá. Ela mora com os pais, um feirante e uma doméstica, e mais sete irmãos, em uma área de periferia.

Para poder participar, o cabeleireiro informou que ficou um período na casa de um amigo também uma área periférica, localizada no distrito da Fazendinha, na capital. A falta de dinheiro foi uma das maiores dificuldades para chegar até a cerimônia no Teatro das Bacabeiras.

Foto: Divulgação; Jorge AbreuLívia Miller foi criada pelo cabeleireiro Patrick Vasconcelos, que mora em periferia de Santana.

“O papel de uma miss não é só ter um vestido bonito e saber desfilar. Temos que ter humildade e saber lidar com todas as críticas. Muitos não sabem o que passa uma miss para chegar ao final de um concurso. Quem me conhece sabe o que eu passei, não foi fácil”, contou.

Com o título, a transformista espera dar visibilidade ao público LGBT. Ela ganhou as passagens, hospedagem e mais dois ensaios fotográficos, além de suporte na preparação para o concurso nacional, como tratamento odontológico e aulas de passarela.

“Eu quero representar no Miss Brasil Gay todas as candidatas que disputaram comigo e também o público LGBT do meu estado. Preciso do apoio de todas nesse momento. Nós temos capacidade de levar uma boa produção e apresentar o que temos de melhor, a nossa cultura”, finalizou Vasconcelos.

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