Da tribuna do Parlamento, um deputado australiano pediu o seu namorado em casamento enquanto discursava em favor da união de pessoas do mesmo sexo no país. Tim Wilson, membro da coalizão do governo conservador, aproveitou que o parceiro, Ryan Belger, assistia ao debate na galeria pública e propôs que os dois formalizassem a relação de sete anos. O legislador é um dos defensores de um projeto de lei que deve, em breve, garantir o direito matrimonial para pessoas do mesmo sexo na Austrália.
Wilson, de 37 anos, foi um dos primeiros a aderir à discussão do projeto na Câmara dos Deputados. “No meu primeiro discurso, eu defini nosso vínculo pelo anéis que estão em nossas duas mãos esquerdas, e eles são a resposta para uma pergunta que não podemos fazer”, destacou o legislador, já emocionado, nesta segunda-feira. “Só resta uma coisa a fazer: Ryan Patrick Bolger, você quer se casar comigo?”.
Professor de escola primária, Ryan, de 33 anos, respondeu “sim”. O casal foi aplaudido por quem acompanhava o debate legislativo.
“A pessoa que mais tenho que agradecer é o meu parceiro. Você teve que tolerar mais do que a maioria, porque teve que me aguentar. Acredite em mim. Este debate tem sido a trilha sonora do nosso relacionamento”, ressaltou o deputado.
A duas semanas do recesso de fim de ano, a Câmara baixa da Austrália prioriza o debate sobre o fim do banimento ao casamento entre pessoas do mesmo sexo no país. Os partidos com maior representação da Casa querem votar a proposta ainda nesta semana. Uma consulta popular, realizada no mês passado, mostrou que a maioria dos cidadãos nacionais apoia a igualdade de união.
Na última semana, o Senado aprovou o projeto e rejeitou todas as emendas que pretendiam aumentar a proteção legal de quem discriminasse casais do mesmo sexo por motivos religiosos. Mas parte dos legisladores, a exemplo do primeiro-ministro Malcolm Turnbull, ainda persistem na aprovação dessas alterações do texto.
Turnbull, que defende o casamento entre pessoas do mesmo sexo, acredita que os celebrantes de casamento, incluindo os afiliados às igrejas, têm o direito de se recusar a oficiar relações de pessoas LGBT. Se a Câmara dos Deputados assim entender e passar a mudança do texto, o projeto deve retornar ao Senado, o que atrasaria a reforma.
‘Cansados de desculpas e atrasos’
Warren Entsch, um defensor de longo prazo da igualdade matrimonial dentro do governo conservador, ajudou a elaborar o projeto de lei e foi o primeiro a falar por ele na Câmara na segunda-feira.
“O projeto de lei que o Senado aprovou é um projeto robusto. Toda uma série de proteções religiosas já estão em vigor. Nós nos certificamos de que removemos qualquer elemento de discriminação neste projeto, garantindo que as liberdades religiosas sejam protegidas”, disse Entsch, ao apresentar o projeto de lei.
O legislador acrescentou que as emendas relacionadas para reforçar as liberdades de discurso e direitos de educação podem ser debatidas em uma lei separada no próximo ano e não devem ser processadas para atrasar a reforma.
“Os australianos estão cansados de desculpas e estão cansados de atrasos”, disse Entsch.
Uma pesquisa postal não vinculativa descobriu que 62% dos entrevistados australianos defenderam que o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse legalizado. Quase 80% dos eleitores registrados da Austrália participaram da pesquisa durante dois meses.
Embora a igualdade matrimonial possa se tornar lei esta semana, os locais de registro estaduais de casamento dizem que não teriam a documentação necessária para realizar casamentos até janeiro.