O caso Tifanny Abreu, primeira transexual a atuar no vôlei profissional feminino no Brasil, será um dos assuntos principais da reunião da Comissão Médica da Federação Internacional de Vôlei (FIVB), no dia 24. Depois dos Jogos Olímpicos de Inverno, na Coreia do Sul, mês que vem, o COI também debaterá o tema.
A FIVB já havia sido provocada a discutir o assunto por causa da estreia de Tifanny na liga feminina italiana, antes mesmo de chegar ao Bauru, clube que defende desde dezembro. Sua passagem pela Itália não foi das mais tranquilas, e atletas daquele país pediram para os clubes não a contratarem novamente. Tifanny chegou a atuar no masculino na Itália e no Brasil.
Por aqui, Tifanny causa desconforto entre técnicos, atletas e médicos. Bastaram 15 dias, entre sua estreia, em 10 de dezembro, até hoje, para as reações mudarem: da celebração por algo inédito e inclusivo aos questionamentos carregados de transfobia sobre uma possível disputa desleal. Isso porque, em cinco partidas, ela já anotou impressionantes 115 acertos e tem a melhor média de pontos por sets.
Por ser um tema delicado, muitas jogadoras não falam abertamente o que pensam. Já declararam que foram aconselhadas a não entrar na discussão ou que são incapazes de opinar. Mas algumas questionam sua força.
Treinadores também se dividem, e os próprios médicos da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) são contra sua presença no feminino. Alegam que a liberaram com base nas recomendações do COI, que exige controle da testosterona, mas dizem que apenas a produção atual do hormônio não seria suficiente para deixá-la em pé de igualdade com as demais jogadoras. Isso porque não é levado em consideração a formação do corpo com testosterona alta, antes da transição.
A CBV já sente a transfobia bater à porta. A entidade não admite, mas já se comenta que a preocupação é com a convocação da seleção brasileira. José Roberto Guimarães, que treina a seleção e o time de Barueri, pediu para não falar sobre o assunto neste momento.
No entanto, ele já declarou que se ela estiver elegível e merecer a convocação, não teria problemas em chamá-la. Porém, ao mesmo tempo, observa que prefere esperar por novas definições, já que o tema ainda é alvo de discussão.