Em ano de eleições, o engajamento político deu o tom ao evento, que acontece na Praça do Relógio, área central da região administrativa, até às 22h. Com o tema “Tire seu voto do armário, vote LGBT”, Parada reivindica visibilidade a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais do Distrito Federal e estimular o voto em candidatos desse segmento ou que sejam pró-LGBT no período eleitoral.
Edição reuniu mais de 40 mil pessoas durante todo o evento, segundo organização. Com apresentações artísticas em trios elétricos, alguns pré-candidatos à Câmara Distrital e até ao Palácio do Buriti marcaram presença, como Júlio Miragaia (PT-DF).
O efetivo de segurança é de 20 brigadistas e 40 seguranças privados. A organização do evento disponibiliza, ainda, 100 banheiros químicos nas imediações da Praça do Relógio e pelo percurso, que este ano foi pela avenida Sandu Norte, passando pela Comercial Norte e voltando para o ponto de concentração, na Praça do Relógio.
Para um dos organizadores da parada e representante da Aliança Nacional LGBTI em Brasília, Michel Platini, o evento deste ano tem valor especial por acontecer em ano de eleição. “A população LGBT vive uma restrição de direitos civis e humanos. O Poder Legislativo atua pela retirada desses direitos e aprovou o Estatuto da Família, que deslegitima as nossas famílias”, exemplifica.
Outra pauta de interesse é a regulamentação da Lei Distrital 2.615 de 26 de outubro de 2000, que impõe penas administrativas para quem pratica LGBTfobia. “Estamos na luta há 20 anos, mas o governador assinou o decreto que regulamenta a lei, em 2017, e a Câmara derrubou”, lamenta Platini. “Temos poucos deputados que defendam nossos direitos. A Câmara tem que ter a cara do povo de Brasília e expressar a sociedade, inclusive com negros e mulheres”, defende.
Visibilidade
O servidor público Enilson Bastos, 56, foi à parada para ser visto. “Mostrar que a gente faz festa, mas que a gente existe”, explica. “Falta visibilidade e representatividade. Para ganhar meu voto, o candidato tem que defender a total laicidade do Estado, dizer não ao Estatuto da Família e colocar a lei anti homofobia do DF em prática”, elenca, ao se referir à Lei 2.615.
Apresentadora do evento, a drag queen, modelo e atriz Allice Bombom, 24 anos, acredita que o evento incentiva os participantes a votar corretamente. “Para que a gente tenha mais força na Câmara Distrital e no Congresso Nacional”, complementa. “Existem leis para nós, mas não são aprovadas. Isso é um Carnaval, a gente se diverte, mas também serve para lutarmos por direitos”, opina.
A estudante de artes cênicas Cácia Labaxúrias, 23, chama a atenção para a importância de o evento acontecer fora do Plano Piloto. “Precisamos ocupar as cidades satélites. Muitas coisas acontecem lá, onde nem todos têm acesso”, aponta. O colega Paulo Bastos, professor, 25, acredita que a população LGBT deve acordar. “Abrir os olhos e se unir para eleger quem está do nosso lado. Muitos candidatos extremistas não agregam em nada. Falta humanidade”, compartilha.
O vigilante José Florentino da Silva, 62, estava só de passagem pela Comercial Norte e resolveu parar para assistir a uma das apresentações de longe. “É a primeira vez que vejo algo assim. Achei normal, sem preconceitos. É cada um no seu lugar, sem humilhação. Somos todos seres humanos”, define.
Saiba mais
Na Parada LGBT de Brasília, em junho, a Aliança Nacional LGBTI apurou que, para 97% dos participantes, a causa LGBT era prioridade nas próximas eleições, na hora de escolher um candidato. Mais de 60% do público considerou que o candidato deveria ter experiência política e gostaria que ele defendesse causas como a segurança pública.
A plataforma www.votelgbt.org traçou um perfil dos participantes da Parada e da Caminhada LGBT de São Paulo em 2018. Na Parada, os homens foram maioria, com 49,2% de participação. Mulheres corresponderam a 44,5% dos participantes. Nos dois eventos, 80% do público disse ter ido ao local por motivos políticos e 20% por diversão.
Durante as manifestações, 40% dos LGBTs se declararam cristãos e outros 40%, ateus. Umbanda e candomblé somaram 20% das respostas. Entre as pautas políticas prioritárias para o grupo, o ensino do respeito ao LGBTQI+ nas escolas ficou em primeiro lugar, seguido da criminalização da LGBTfobia e a criação de cotas de emprego para pessoas travestis e transexuais.