Lei homofóbica está excluindo personagens LGBT de livros na Rússia

História de menina trans americana ficou de fora da edição russa de um livro infantil.

Lei homofóbica está excluindo personagens LGBTQI+ de livros na Rússia
Crianças lendo o livro ‘Good stories for rebel girls’. (Foto: Divulgação)
(Reuters) – “Histórias de ninar para garotas rebeldes”, um livro infantil de sucesso com 100 histórias de mulheres proeminentes, foi publicado na Rússia este ano, mas com uma história a menos. Liza Lazerson, uma blogueira feminista que possui uma cópia, ficou surpresa ao perceber que, enquanto a capa prometia 100 histórias, o livro continha apenas 99 e uma página em branco — supostamente para o leitor adicionar as suas.

— Mas então um seguidor me enviou uma foto da história de Coy Mathis na edição francesa — diz Lazerson, que mora em Moscou.

Mathis, uma menina americana transexual de 11 anos, ganhou um processo marcante contra sua escola em 2013, quando teve reconhecido pela Justiça seu direito a usar o banheiro feminino.

O site de notícias russo “Takie Dela” cita a editora Bombora, responsável pelo lançamento no país, justificando que a história foi retirada do livro devido a uma lei de 2013 que proíbe a “propaganda de relações sexuais não-tradicionais” para menores de idade. Na edição brasileira, publicada pela editora Vergara & Riba, a história de Coy Mathis está presente.

A lei é vista por ativistas como uma tentativa do presidente Vladimir Putin de se aproximar de seu eleitorado, em sua maioria composto por cristãos ortodoxos. A Rússia é um dos países menos favoráveis para as pessoas LGBT da Europa, classificada em 45º lugar entre 49 países pela ILGA-Europa, uma rede de grupos de direitos LGBT+.
Francesca Cavallo, uma das autoras de “Good night stories for rebel girls”, se diz “profundamente triste com a exclusão da história de Coy”. A homossexualidade era considerada um crime na Rússia até 1993 e classificada como uma doença mental até 1999.

Crimes de ódio contra pessoas LGBT+ aumentaram após a aprovação da lei homofóbica e os tribunais ordenaram que vários sites LGBTQI+ fossem bloqueados, dizem os ativistas.

O impacto da lei de propaganda na indústria editorial russa, que chega a 56 bilhões de rublos (ou US$ 848 milhões), ainda é incerto. A escritora americana Victoria Schwab, autora de livros de fantasia diz que a editora Rosman retirou um enredo LGBTQI+ da edição russa de um de seus romances da série “Shades of Magic”.

“Eles editaram todo o enredo gay sem a minha permissão”, criticou Schwab em suas redes sociais.

Uma porta-voz do Rosman se recusou a comentar sobre a edição de conteúdo. A editora disse anteriormente à rádio Echo, de Moscou, que apenas uma cena, e não toda a trama, foi cortada e que os editores russos “são frequentemente forçados a recorrer a esse tipo de edição”.
De acordo com as leis atuais, os editores podem remover conteúdo LGBTQI+ de livros destinados a crianças e adolescentes, ou marcá-los como não apropriados para menores de 18 anos. Além disso, todos os livros classificados como “para maiores de 18” devem ficar envoltos em plástico.

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