
A agência sobre Aids da ONU alertou para o risco de haver 2 mil novas infecções de HIV todos os dias no mundo devido aos cortes da USAID, a agência de ajuda externa dos Estados Unidos.
De acordo com Winnie Byanyima, diretora-executiva da Unaids, a interrupção do financiamento da saúde e o efeito que isso pode ter em serviços mais amplos terão um impacto devastador sobre as pessoas que vivem com HIV/Aids.
“Essa retirada repentina do financiamento dos EUA está fechando muitas clínicas, forçando a demissão de milhares de profissionais de saúde… Tudo isso significa que esperamos ver o aumento de novas infecções. O Unaids estimou que poderemos ter 2.000 novas infecções todos os dias”, destacou.
Byanyima afirmou que os números foram baseados em modelos da ONU, mas não deu mais detalhes sobre como as estimativas foram feitas.
A diretora ressaltou que, se o financiamento da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) não for retomado ao final da pausa de 90 dias — em abril — ou não for substituído por outro governo, “haverá, nos próximos quatro anos, mais 6,3 milhões de mortes por Aids”.
De acordo com dados mais recentes, houve 600 mil mortes relacionadas à Aids em todo o mundo em 2023, acrescentou ela. “Portanto, estamos falando de um aumento de dez vezes”, concluiu.
A Unaids, que coordena a resposta global para a prevenção e o tratamento do HIV/Aids, recebeu US$ 50 milhões em financiamento básico dos EUA no ano passado, o que representa 35% do orçamento da agência da ONU.
A delegação dos EUA em Genebra não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters.
O presidente americano, Donald Trump, suspendeu quase toda a ajuda externa dos Estados Unidos ao assumir o cargo em 20 de janeiro.
Dias depois, o Departamento de Estado pontuou que os serviços que podem salvar vidas no âmbito do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids (PEPFAR, na sigla em inglês) continuaria.
Entenda o que é a USAID
A USAID foi criada em 1961 sob a administração do Presidente John F. Kennedy e é o braço humanitário do governo dos EUA.
A agência distribui bilhões de dólares anualmente em todo o mundo para aliviar a pobreza, tratar doenças e responder à fome e às catástrofes naturais.
Promove também a construção e o desenvolvimento da democracia, apoiando organizações não governamentais, meios de comunicação independentes e iniciativas sociais.
A USAID é uma ferramenta essencial de soft power dos Estados Unidos para promover relações com comunidades em todo o mundo, dizem as autoridades.
Os pilares da segurança nacional dos EUA são os “três D”: defesa, diplomacia e desenvolvimento, liderados, respectivamente, pelo Departamento de Defesa, Departamento de Estado e USAID.
Cerca de 60 funcionários seniores da agência de ajuda externa foram afastados na semana passada, acusados de tentar contornar a ordem executiva de Trump de congelar a ajuda externa durante 90 dias. Muitos outros funcionários juniores e contratados da agência também foram colocados em licença, disseram várias fontes à agências de notícias.
No sábado (1°), o site da USAID foi desativado e uma nova página da agência apareceu no site do Departamento de Estado.
A conta no X da USAID também ficou offline no sábado, e uma fonte disse à rede CNN que todo o escritório de relações públicas da agência foi colocado em licença e seus sistemas foram bloqueados.