São Paulo

Operação Cinderela: 6 são presos por exploração de travestis e transexuais em Ribeirão Preto

Quatro são procurados e 18 mandados de busca foram cumpridos. Força-tarefa diz que jovens eram obrigadas a se prostituir e até agredidas após submetidas a 'tribunal do crime'.

Operação Cinderela cumpre mandado em edifício na Rua Rui Barbosa em Ribeirão Preto. (Foto: Michele Souza)
Operação Cinderela cumpre mandado em edifício na Rua Rui Barbosa em Ribeirão Preto. (Foto: Michele Souza)
Seis pessoas foram presas na manhã desta quarta-feira (13) e quatro são consideradas foragidas por suspeita de integrar uma quadrilha de exploração de jovens travestis e transexuais em Ribeirão Preto (SP). Os agentes também cumpriram 18 mandados de busca e apreensão na cidade.

Batizada de Operação Cinderela, a força-tarefa contou com equipes do Ministério Público do Trabalho (MPT), Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF) e Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae).

Segundo o MPT, um dos alvos da operação já estava preso em razão de outro processo criminal, em que é investigado por dois homicídios e pelo desaparecimento de três transexuais, sendo uma delas adolescente.

Os agentes cumpriram mandados em endereços nos bairros Jardim Salgado Filho, Quintino Facci I, Centro, Vila Tibério, Vila Tamandaré e Avelino Alves Palma. Um micro-ônibus foi usado para transportar as 38 vítimas identificadas até a delegacia da PF para prestarem depoimento.

Quarto em imóvel alvo de mandado de busca na Operação Cinderela em Ribeirão Preto. (Foto: Divulgação)
Quarto em imóvel alvo de mandado de busca na Operação Cinderela em Ribeirão Preto. (Foto: Divulgação)

Investigação

Em nota, a PF informou que a investigação teve início a partir das denúncias de duas vítimas, que conseguiram fugir do local onde eram obrigadas a se prostituírem. A maioria delas é natural de estados do Norte e Nordeste brasileiros.

A quadrilha prometia às travestis e transexuais procedimentos de readequação do corpo, além de hospedagem e alimentação. Por isso, as vítimas já chegavam a Ribeirão Preto com dívidas referentes aos valores das passagens e despesas de viagem.

“Criada a condição de dependência econômica e ascendência sobre as vítimas, os aliciadores davam início à transformação corporal daquelas, com a aplicação de silicone industrial e realização de procedimentos cirúrgicos ilegais, de modo a aumentar ainda mais a dívida das vítimas.”

A PF informou também que as travestis e transexuais eram obrigadas a consumir drogas e a se prostituírem para pagar as dívidas, e havia uma “divisão territorial” para atuação de cada aliciador. Os nomes dos investigados ainda não foram divulgados.

Quarto em imóvel alvo de mandado de busca na Operação Cinderela em Ribeirão Preto. (Foto: Divulgação)
Quarto em imóvel alvo de mandado de busca na Operação Cinderela em Ribeirão Preto. (Foto: Divulgação)

Castigos Físicos

Ainda segundo a PF, as travestis e transexuais que não conseguiam pagar as dívidas ou desrespeitavam as regras eram julgadas em um “tribunal do crime” e punidas com castigos físicos, morais e até multas, além de terem seus pertences subtraídos.

“Há registros de suicídios em virtude das pressões sofridas pelas vítimas, desaparecimentos, aplicações de castigos físicos com pedaços de madeira com pregos e homicídios, tudo decorrente da cobrança de dívidas”, informou a PF.

Os suspeitos responderão pelos crimes de tráfico de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, exercício ilegal da medicina, organização criminosa e rufianismo – que consiste em obter lucro com a prostituição alheia. As penas desses crimes podem somar mais de 34 anos de prisão.

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