Homofóbico espanca jovem em terminal de ônibus de Ribeirão Preto
Agenciador de modelos, de 23 anos, conta que estava no banheiro, quando foi impedido de sair por andarilho, que o agrediu com socos e chutes.
A Polícia Civil investiga a agressão homofóbica sofrida por um agenciador de modelos, de 23 anos, no terminal rodoviário urbano de Ribeirão Preto (SP). Felipe Nadalin Vieira diz que foi espancado por ser gay. O agressor, que seria um andarilho, não havia sido identificado até a tarde deste sábado (13).
“Entrei no banheiro e ele entrou logo depois, e disse que ia matar todos os viados (sic) que estavam lá dentro, porque agora ele pode. Depois que disse isso, ele travou a minha passagem, eu não conseguia sair”, afirma Vieira, que mora em Ribeirão há cerca de dez meses.
O agenciador foi agredido com socos e chutes, que deixaram escoriações nos braços e nas costas. O jovem passou por exames e foi medicado em uma unidade de saúde.
O caso foi registrado como lesão corporal e está sendo investigado pelo 3º Distrito Policial de Ribeirão.
“Estou voltando para minha cidade. Vou embora da cidade, porque realmente estou com muito medo. Depois que eu saí da delegacia, fui ao Centro e encontrei o cara, vi de longe. Ele estava na rua. Deve continuar a fazer a mesma coisa com outras pessoas”, diz.
Vieira conta que utiliza o transporte público para trabalhar todos os dias: ele pega um ônibus próximo à casa onde mora, no Alto do Ipiranga, e segue até o terminal urbano, onde entra em um segundo coletivo para chegar à empresa, no Jardim São Luiz.
Nesta quarta-feira (10), no intervalo entre uma linha e outra, o jovem utilizava o sanitário do terminal, por volta de 13h30, quando foi abordado pelo agressor. Impedido de sair, Vieira conta que foi agredido com um soco, que o fez parar do lado de fora do banheiro.
“Quando passei do lado dele, para poder sair, ele logo me empurrou e deu o primeiro soco. Ele voltou e me deu mais um soco e depois o terceiro soco. Comecei a me defender, até mesmo sair, tentar correr, foi quando ele me empurrou da última vez e eu caí no chão”, relembra.
O agenciador diz que continuou sendo agredido com socos e chutes, até que passageiros e funcionários do terminal conseguiram conter o agressor. Vieira correu em direção à plataforma e entrou em um ônibus urbano da linha Jardim Nova Aliança.
“Um pessoal conseguiu tirar ele de cima de mim. Fugi porque, além de tudo, o pessoal falou que ele já tinha feito isso no terminal rodoviário. Ele já tinha brigado com alguém lá”, afirma.
Insegurança
Ao chegar à empresa onde trabalha, bastante machucado, Vieira relata que foi levado por colegas até o 4º Distrito Policial, para registrar um boletim de ocorrência. Entretanto, segundo o agenciador, um funcionário negou o atendimento, alegando que não havia provas.
“Quando eu cheguei, estava abalado. Ele explicou que não poderia fazer o boletim de ocorrência porque não tinha nenhuma prova, não tinha como provar para ele o que tinha acontecido. Ele falou, ‘liga para Polícia Militar’”, afirma.
Ainda em frente à delegacia, Vieira diz que ligou no telefone 190 e foi orientado a retornar ao terminal, para só então acionar a PM. O agenciador afirma que teve medo de reencontrar o agressor, e optou por buscar socorro em uma unidade de saúde, mas, no meio do caminho, encontrou uma equipe da PM.
“Eu parei e perguntei para o policial, mostrei que estava machucado e tudo mais, e ele disse novamente para eu retornar ao local onde tinha acontecido a agressão. Ele disse ‘não vai ser rápido, a gente está com pouca viatura’. Ele ainda me disse isso”, reclama.
Socorro
Por fim, Vieira decidiu seguir à Unidade Básica Distrital de Saúde (UBDS) do bairro Quintino Facci II, próximo à casa onde mora. Ele passou por exames, foi medicado e liberado. Já em casa, o agenciador publicou um desabafo no Facebook, que viralizou.
Nesta sexta-feira, a postagem tinha 2,5 mil comentários e 4,4 mil compartilhamentos. O agenciador conta que uma funcionária da Polícia Civil entrou em contato com ele e disse para que insistisse no registro do boletim de ocorrência.
Na quinta-feira (11), a vítima voltou ao 4º Distrito Policial e conseguiu registrar a ocorrência, sendo encaminhado para exame de corpo de delito. A investigação será conduzida pelo 3º Distrito Policial, mas o agressor ainda não foi identificado.
“Eu conheço ele, sei quem é. Eu dava grana para ele todos os dias. Eu colocava meu passe e dava as moedinhas do troco. Ele é conhecido da galera, é alto, tem olho claro, todo mundo conhece. Acho que estava sob o efeito de crack”, diz Vieira.
Após a repercussão do caso, o agenciador afirma que foi procurado por ONGs que lhe ofereceram apoio psicológico e jurídico. Com medo de ser novamente agredido, Vieira retornou para a casa da família, em uma cidade vizinha a Ribeirão Preto.
“Acho que é muito importante outras pessoas verem que isso realmente acontece, porque muita gente não acredita. Por ser interior, geralmente ninguém acredita que isso acontece, mas acontece”, desabafa.
Atendimento
Em nota, a PM informou que, “na data e local do fato não foi localizada a citada solicitação, o que dificulta a verificação das circunstâncias que ocorreram o fato narrado pelo denunciante”.
A PM orienta o jovem a formalizar a reclamação na Seção de Polícia Judiciária e Disciplina, no bairro Ribeirânia, para que seja instaurado um procedimento apuratório interno.
Já a Delegacia Seccional negou as afirmações feitas por Vieira, destacando que o boletim de ocorrência foi registrado junto à Central de Polícia Judiciária Sul, composta pelos 4º, 7º e 8º Distritos Policiais.
“Oportuno dizer que o registro foi feito na presença da vítima que relatou o ocorrido, tendo inclusive o assinado, e recebido requisição de exame de corpo de delito”, diz o comunicado.