Mesmo sendo crime, clínica de hipnose no DF promete ‘cura gay’ por R$ 30 mil

Estabelecimento na Asa Sul anuncia 'garantia vitalícia' para 'tratamento do homossexualismo'. Conselho Regional de Psicologia vai investigar caso.

Estabelecimento na Asa Sul anuncia 'garantia vitalícia' para 'tratamento do homossexualismo'. (Foto: Divulgação)
Estabelecimento na Asa Sul anuncia ‘garantia vitalícia’ para ‘tratamento do homossexualismo’. (Foto: Divulgação)

Segundo uma reportagem da TV Globo, uma clínica de hipnose que oferece, em Brasília, a “garantia vitalícia” para “tratamento do homossexualismo” (sic) será investigada pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP). A prática da terapia de reversão sexual, a chamada “cura gay”, é vedada pelo órgão e, em 2019, foi suspensa a partir de um entendimento do Supremo Tribunal Federal.

No site da Hipnoticus, Gabriel Henrique de Azevedo Veloso, garante ainda tratamento contra depressão e doenças autoimunes “antes mesmo da primeira sessão”. O procedimento custa a partir de R$ 29,9 mil e, segundo ele, é o “equivalente a 70 anos de terapia”.

Henrique contou que atua na área desde 2007 em entrevista ao site G1 e negou que ofereça cura para pessoas LGBTQIA+. “Foi um mal-entendido. A palavra homossexualismo [sic] tem uma conotação negativa e já foi retirada do site”. disse.

“Tem gente que procura esse tipo de tratamento, não é algo forçado a ninguém. Não tem cura gay, não tem fobia nenhuma e nenhum preconceito, muito pelo contrário. O cliente homossexual que quiser ser tratado pode ser tratado sem mudança de orientação sexual, foi uma infelicidade por conta do termo”, diz Henrique.

Anúncio em site de clínica de hipnose no DF oferece tratamento para o ‘homossexualismo’. (Foto: Hipnoticus/Reprodução)

Para o Conselho Federal de Psicologia, terapias de reversão sexual representam “uma violação dos direitos humanos e não têm qualquer embasamento científico”.

A presidente do CRP-DF, Thessa Guimarães, explicou que, mesmo que Henrique não se apresente como psicólogo, vai acionar comissão de ética do conselho para apurar se as práticas oferecidas pelo estabelecimento “podem configurar exercício ilegal da profissão e charlatanismo”.

“É vedado praticar curar gay ou cura trans. A resolução e o código de ética da psicologia dizem que é tarefa do profissional trabalhar para eliminação de qualquer forma de opressão racial, de identidade de gênero e econômica.”

Na internet, o hipnólogo se diz filiado ao Conselho de Autorregulamentação da Terapia Holística (CRT) e se autointitula o “criador da psicoterapia sem falhas”. A reportagem aguarda um posicionamento do órgão sobre o caso.

LGBTfobia

A prática de “reversão sexual” para pessoas LGBTQIA+ oferecida pela clínica Hipnoticus também chamou a atenção da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do DF.

Presidente da comissão, o deputado distrital Fábio Félix (Psol) disse em entrevista a TV Globo que tomou conhecimento do caso por meio de uma denúncia anônima.

“Chegou até nós que a clínica estaria tentando tratar pessoas e se referindo à homossexualidade como doença, inclusive usado o sufixo ‘ismo’ como referência”, disse o parlamentar. Desde 1990, a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde.

“É um absurdo completo. Nós vamos comunicar ao Ministério Público, à delegacia especializada [Decrin] e à Defensoria Pública para combater esse caso. Está sendo analisado como LGBTfobia, que, inclusive, já foi qualificado pelo STF como crime no Brasil.”

Em abril de 2019, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu uma decisão da Justiça Federal de Brasília que permitia a prática da “cura gay”. Ela atendeu a pedido do Conselho Federal de Psicologia, que entrou no Supremo contra decisão do juiz da 14ª Vara Cível em Brasília, que autorizou psicólogos a realizarem terapias do tipo.

Resolução atual do conselho, no entanto, impede que psicólogos colaborem “com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades”.

Já em janeiro deste ano, Cármen Lúcia cassou a decisão da Justiça do DF e determinou o arquivamento do caso.

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