
Mês do orgulho LGBTQIA+, junho encontra um Rio marcado pelo avanço da transfobia. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, apontam que o número de mulheres trans que buscaram atendimento em unidades hospitalares por terem sofrido algum tipo de agressão explodiu nos últimos dois anos.
Matéria do Jornal O Globo, mostra que só em 2022, o estado já contabilizou 146 casos suspeitos ou confirmados, quase um por dia. O número se aproxima do total do ano passado, que bateu o recorde da série histórica, iniciada em 2015: 159 registros.
A capital somou, entre janeiro e maio de 2022, mais que o dobro do número de casos de 2021 inteiro. Já são 73 notificações este ano, contra 29 no ano passado.
“Em 2021, as pessoas ficaram mais em casa e se expuseram menos a situações de risco, o que ajuda a explicar o aumento. Mas, para além disso, estamos numa época de polarização muito grande, em que tudo é ideologizado. Se uma pessoa não vive de acordo com o dogma do outro, vira inimigo” afirma Carlos Tufvesson, coordenador especial da diversidade sexual do município, em entrevista a reportagem do O Globo.
O jornal mostra que os números são vestígios de uma realidade ainda subnotificada. Entre outros fatores, o medo de retaliação do agressor e da revitimização pelo Estado — que ocorre quando a vítima, ao procurar a ajuda do poder público, sofre uma nova agressão — afasta as mulheres da denúncia formal.
O total de mulheres trans e travestis que precisaram do apoio jurídico do Rio Sem LGBTfobia nos primeiros cinco meses de 2022 é mais que o dobro do total registrado no mesmo período do ano passado: foram 889 casos este ano, contra 391 em 2021.
Os atendimentos jurídicos também englobam outras demandas, como retificação de nome. Mas a maioria dos chamados, de acordo com o coordenador do programa, Ernane Alexandre, decorre da violência — sobretudo na Baixada Fluminense, que concentra os casos mais graves de agressão.
Os dados obtidos pelo o jornal O Globo, apontam que 93% dos casos envolvem agressão física, sendo 80% com indícios de espancamento. Quase 70% dos agressores são do sexo masculino, e 47% dos casos são de violência reincidente. É grande a frequência de cônjuges (23%), desconhecidos (17%) e amigos ou conhecidos (15%) entre agressores. Além disso, mais da metade das vítimas é preta ou parda (53%).
Para denunciar a violência, mulheres trans têm à disposição, além do número 180, o Disque 100 (Direitos Humanos). No Rio, há também o Disque Cidadania e Direitos Humanos (0800 0234567), que funciona 24 horas por dia.