Governo Lula adota pronome neutro em eventos oficiais

Linguagem neutra foi utilizada em cerimônias de posse de ministros do novo governo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva na primeira reunião ministerial nessa sexta-feira, 6. (Foto: Reprodução)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva na primeira reunião ministerial nessa sexta-feira, 6. (Foto: Reprodução)

A cerimonialista da posse de Fernando Haddad como ministro da Fazenda se dirigiu ao público com “todos, todas e todes”. A linguagem neutra é utilizada para se referir a pessoas que não se identificam com o gênero masculino nem com o feminino, e demonstra um movimento de inclusão da comunidade LGBTQIA+ do novo governo.

A utilização do pronome neutro também ocorreu nas cerimônias dos ministérios de Direitos Humanos e da Cidadania, da Cultura, da Mulher, e das secretarias Geral da Presidência e de Relações Institucionais. O termo “todes” também foi utilizado pela primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, na cerimônia de transmissão de cargo da ministra da Cultura, Margareth Menezes.

Repercussão do ‘todes’

O termo “todes” figurou no trending topics do Twitter esta semana, devido ao uso nas cerimônias de posse dos ministros do novo governo. Enquanto muitos criticavam o uso do termo, e utilizando a linguagem neutra para ironizar a pauta, a sinalização de inclusão foi vista como positiva pela comunidade LGBTQIA+.

Gregory Rodrigues, Coordenador Nacional de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI+, afirma que é necessário compreender que todas as demandas presentes na sociedade precisam ser avaliadas para serem entendidas.

“A língua portuguesa é viva, e precisa ser inclusiva de modo a abraçar todas as pessoas. Esta atitude do novo governo, ao meu ver, busca trazer luz sobre um debate há muito silenciado, demostrando preocupação com a diversidade existente na sociedade brasileira”, afirma Gregory.

Além do uso do “todes” nos eventos oficiais, também é possível outras substituições de palavras, de forma abraçar todas as pessoas por meio da comunicação. Por exemplo: “vamos nos reunir com líderes do setor” por “vamos nos reunir com lideranças do setor”.

“E espero que a linguagem neutra não seja a única ação do governo Lula voltada para a comunidade LGBTQI+. Mas diante dos últimos 4 anos de tantos retrocessos, a adoção da linguagem neutra nas cerimônias de posse do novo governo demonstra que as demandas dessa comunidade podem voltar a avançar e traz um pouco mais de esperança”, afirma o colunista Arthur Bugre.

Origem da linguagem neutra

O primeiro país onde se usou a linguagem neutra por pessoas não binárias, que não se sentem confortáveis sendo tratadas no masculino ou feminino, foi a Suécia. Na língua sueca existe palavra “Hen”, que pode ser usada para descrever qualquer pessoa, independente do sexo ou gênero.

Desde então, movimentos LGBTQIA+ de outros países começaram a adotar a linguagem neutra também. É o caso dos Estados Unidos, onde pessoas não binárias utilizam o pronome plural “They”, uma vez que não há identificação de gênero no termo. Além disso, na língua inglesa não há definição de gênero para objetos ou adjetivos, ou seja, grande parte da língua naturalmente neutra.

No caso do Brasil e outras línguas latinas, há a definição de gênero para quase todos os termos utilizados no dia a dia. Originalmente o Latim tinha três formas: feminino, masculino e neutro, mas com o tempo caiu em desuso, e hoje utilizamos apenas as duas primeiras formas, sendo convencionado que o plural seria colocado no masculino.

Para tornar a língua portuguesa neutra, algumas soluções como o uso do “x” ou do “@”, chegaram a ser utilizadas, principalmente nas redes sociais. Entretanto, o mais usado e aceito é o uso do “e” e do “u” para substituir a marcação de gênero, por exemplo: Ele/ela se torna “elu”, brasileiro(a), se torna “bresileire”, todos/todas, se torna “todes”.

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