Mulher transsexual e negra, Vitor Martins, de 29 anos, usou os estudos como “válvula de escape” para uma realidade cercada de preconceitos e, hoje, é referência para jovens LGBTQIA+.
Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, ela criou um plano de carreira quando tinha 19 anos. Entre as principais metas, queria ser poliglota até o início da década seguinte, prazo que fecha este ano.
“Cria da UFSC”, como se considera, a maranhense reconhecida pela Forbes como um dos principais perfis intraempreendedores e inovadores da comunidade LGBTQIA+, já alcançou fluência no espanhol. Agora busca o inglês.
Para isso, começou um intercâmbio em fevereiro deste ano, quando saiu da Capital. Desde estão, estuda a língua em Londres, na Inglaterra.
“A questão do inglês [vir depois do espanhol] foi falta de oportunidade. Desconhecia projetos. Por isso, pensava que inglês não era para mim. Hoje eu consigo estar aqui [em Londres], falando meu terceiro idioma”, diz.
‘Estudar me trouxe aqui’
A jovem atribui muitas de suas conquistas à educação que recebeu da mãe, além do acesso à universidade pública, que veio após muita preparação. Às vezes, conta, deixava de almoçar para estudar.
A mãe sustentava a família com trabalhos em bordado e crochê e costumava falar para a filha, durante a adolescência, que estudar era o melhor conselho que poderia dar.
“Eu tomei isso com muito afinco. Um adicional a isso é que sempre fui estigmatizada por ser aquela gay afeminada. Estudar me trouxe aqui”, conta.
Ela entrou com cotas em psicologia e se orgulha de ser “cria da UFSC”. Martins se formou no curso, que era uma das metas do plano de carreira dela, em novembro de 2021. Também é graduada em administração.
Conquistas
Mestranda em Psicologia pela UFSC, hoje Vitor é reconhecida pela Forbes como um dos principais perfis intraempreendedores e inovadores da comunidade LGBTQIA+ . Além disso, recebeu o prêmio Young Leader 2021 (foto abaixo), que celebra jovens líderes que impactam positivamente em organizações e na sociedade.
“É sobre chegar até aqui. Eu não sou a pessoa que acredita que a educação que a gente tem faz todo mundo virar ‘Beyonces’ da vida. Tem muita gente com doutorado que está desempregado. Mas, no meu caso, a educação foi minha válvula de escape”, revela.
Hoje, a também empresária está dedicada no próprio negócio. Ela atua com consultoria de diversidade e inclusão para empresas.
A proposta do negócio é, de acordo com ela, construir ambientes mais diversos em empresas privadas e conscientizar e instrumentalizar gestores e RH’s para práticas mais inclusivas. Apoia empresas a construírem um posicionamento da marca mais diverso e inclusivo.
A edição de 2020 do estudo Diversity Matters, feita pela empresa de consultoria McKinsey, apontou que apenas 21% dos brasileiros consideram elevada a diversidade étnico-racial nas empresas em que trabalham.