São Paulo

Polícia conclui que homem do meme ‘Cadê meu green?’ morreu por overdose de drogas

Técnico em enfermagem Luiz Lima ficou conhecido em 2020 por gravar vídeo pedindo entrada gratuita na boate The Week. Hóspede foi achado ensanguentado e sem vida no Hotel Chilli no Centro em 2023. Justiça arquivou caso por morte ter sido acidental.

Luiz Carlos Pereira de Lima, conhecido pelo meme 'Cadê meu green?' foi achado morto na banheira da suíte número 343 do Hotel Chilli, no Centro de São Paulo. (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Hotel Chilli)
Luiz Carlos Pereira de Lima, conhecido pelo meme ‘Cadê meu green?’ foi achado morto na banheira da suíte número 343 do Hotel Chilli, no Centro de São Paulo. (Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/Hotel Chilli)

A polícia de São Paulo concluiu que Luiz Carlos Pereira de Lima, que em 2020 ficou conhecido nas redes sociais pelo meme “Cadê meu green?” (saiba mais abaixo), morreu no ano passado por overdose de drogas. A informação foi confirmada ao Gay1 nesta quarta-feira (8) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Segundo a Polícia Civil, a morte de Luiz foi considerada “acidental”. A investigação descartou as hipóteses de homicídio e suicídio. Como não ocorreu nenhum crime, o processo foi arquivado em março deste ano pela Justiça. O entendimento da Polícia Técnico-Científica foi o de que ele morreu acidentalmente ao consumir drogas.

“O inquérito policial foi instaurado pelo 3º DP (Campos Elíseos) e relatado à Justiça. O Poder Judiciário determinou o arquivamento do processo em março deste ano, pois não houve nenhum evento violento ligado à morte, além do laudo pericial toxicológico ter identificado uma variedade de substâncias entorpecentes, sugerindo uma possível overdose”, informa nota da SSP.

Policiais encontraram Luiz sem vida em 18 de setembro de 2023 dentro da banheira da suíte do Hotel Chilli, famosa sauna gay no Largo do Arouche, no Centro de São Paulo. O corpo dele estava ensanguentado. Ele tinha 34 anos e era técnico em enfermagem.

O caso chegou a ser investigado inicialmente como “morte suspeita” a ser esclarecido pelo 3º Distrito Policial (DP), Campos Elíseos. O Departamento Estadual de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) também participou das investigações.

A polícia realizou exames periciais no cadáver, analisou câmeras de segurança do estabelecimento e ouviu testemunhas que trabalham no lugar.

Mortes no hotel

Hotel Chilli tem quartos com suítes, além de piscina em outro espaço. (Foto: Reprodução/Instagram Hotel Chilli)
Hotel Chilli tem quartos com suítes, além de piscina em outro espaço. (Foto: Reprodução/Instagram Hotel Chilli)

Em sua página oficial no Instagram, o Hotel Chilli informa ser um “Hot Hotel & Sauna”, “Só para homens maiores de 18 anos”, que funciona “24 horas” e oferece “Drinks at Piroca´s Bar”.

No ano passado, o lugar tratou a morte de Luiz como um “acidente”. Ainda no site, o estabelecimento lamentou o caso e postou a frase: “Sentimos muito e esperamos a compreensão de todos”.

De acordo com o hotel, o hóspede “foi encontrado caído dentro da banheira em uma das nossas suítes e, pelas imagens de segurança, parecia estar sozinho na hora do acidente”.

O hotel também informou que, “em quase 12 anos no Largo do Arouche, esse é o terceiro óbito em nossos recintos”. O estabelecimento não dá detalhes de como as outras duas mortes ocorreram (leia abaixo a íntegra do comunicado).

Frequentadores do local comentaram que, apesar de o local ter o nome de hotel, ele é conhecido por gays pelas saunas, cabines, piscina e suítes com banheiras destinadas a homens que queiram ter relações sexuais.

Hotel Chilli divulgou nota no seu Instagram para lamentar morte de hóspede Luiz Carlos Pereira de Lima. (Foto: Reprodução/Instagram)
Hotel Chilli divulgou nota no seu Instagram para lamentar morte de hóspede Luiz Carlos Pereira de Lima. (Foto: Reprodução/Instagram)

No último mês, o publicitário Yuri Henrique de Castro, de 23 anos, morreu depois de sair do local.

O proprietário afirmou que às 4h25 de segunda Yuri relatou a funcionários que estava sendo perseguido dentro do hotel. Ele pediu a conta, para ir embora, mas não tinha dinheiro para pagá-la.

Neste momento, pediu para fumar em uma área aberta e, enquanto o segurança revistava um outro cliente, o publicitário saiu correndo em direção ao Terminal Amaral Gurgel. O funcionário foi atrás do rapaz, segundo relato do dono do estabelecimento.

O Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) investiga o caso como homicídio. As imagen das câmeras de segurança do local já foram obtidas pela Polícia Civil, que não descarta nenhuma linha de investigação.

Meme ‘Cadê meu green?’

“Agora eu vou contar a trip de quando eu pedi um green pro [André] Almada [empresário]. Tudo começou na semana passada… que eu mandei um WhatsApp pra ele… pedindo, explicando a situação, pedindo um green [em menção ao green card que estrangeiros obtêm para ter trânsito livre nos Estados Unidos] pra ter acesso livre às festas e ao camarote da The Week”, disse Luiz em vídeo de 2020.

Ele postou a gravação nas redes sociais. Depois disso, o vídeo viralizou como meme na internet. Luiz criticava à época o então fundador da The Week, balada LGBTQIA+, por não lhe dar um convite VIP.

Desde então, surgiram piadas com a pergunta “Cadê meu green?”, usada entre gays para brincar com a situação de quem quer entrar de graça numa balada. A frase virou até tema de festas. Luiz, que tinha mais de 3.500 seguidores no seu Instagram, chegava a dizer que conseguiu economizar R$ 1 milhão por ganhar convites VIPs para baladas.

Ainda em 2020, ele se candidatou a uma das vagas de vereador em Guarulhos, cidade de Grande São Paulo. Concorreu pelo partido Rede Sustentabilidade, teve 42 votos e não se elegeu. Naquele ano, ele chegou a gravar um vídeo e postar nas suas redes sociais pedindo voto num lugar que dizia ser uma balada clandestina durante a pandemia de Covid-19.

“E começamos nossa campanha nas eleições municipais 2020. Que eu acredito que seja a mudança no Brasil na saúde, na corrupção e o início da mudança de tudo que tem que acontecer no nosso país. Numa festa clandestina, no meio do coronavírus, iniciamos nossa campanha: Luiz Carlos Lima 18800. Vota em mim”, diz ele na gravação.

Técnico em enfermagem

Luiz era técnico em saúde e também em enfermagem, segundo informou a Prefeitura de Guarulhos por meio de nota. Procurada, a administração pública confirmou que ele chegou a trabalhar para o município até 2013. Depois atuou até 2020 num hospital da cidade.

“A Secretaria da Saúde de Guarulhos informa que Luiz Carlos Pereira de Lima era técnico em saúde, mas havia saído da Prefeitura há muito tempo. Seu último trabalho foi no Hospital Municipal de Urgências (HMU) cujo vínculo foi encerrado, após solicitar dispensa, em 27 de junho de 2013. Ele também trabalhou no Complexo Hospitalar Padre Bento (estadual) até 2020 como técnico de enfermagem”, informa nota da administração.

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