A deputada federal Erika Hilton (PSOL) e a vereadora Amanda Paschoal (PSOL) denunciaram o pastor Flávio do Amaral, que se autodenomina ex-travesti, ao Ministério Público por LGBTfobia e tortura. A denúncia foi feita após o suicídio de uma jovem trans, de 22 anos, que passava há mais de um ano por um processo de “destransição” e “cura gay” promovido pelo religioso. A Polícia Civil foi acionada para investigar o caso.
Letícia Maryon, de 22 anos, cometeu suicídio no final de setembro, período em que passava por um processo de destransição no grupo Libertos por Deus (LPD), da igreja conduzida por Amaral para jovens LGBTQIA+. O pastor frequentemente faz lives e se apresenta em programas de TV como sendo ex-travesti e ex-gay, além de uma espécie de “missionário” no projeto que supostamente ajuda pessoas LGBTQIA+ a abandonarem “vícios e maldições”.
Ele chegou a comentar que obrigou a vítima a ficar de jejum após ela confessar que estava apaixonada por um homem.
“A ‘cura gay’ e a ‘destransição’ são práticas proibidas internacionalmente, inclusive no Brasil, mas são adotadas dentro de algumas igrejas e comunidades terapêuticas, que se aproveitam da vulnerabilidade alheia para impor dogmas que desumanizam as LGBT+, e não raramente podem levar ao su*cídio das vítimas”, afirmou a vereadora Amanda Paschoal.
Em nota, a defesa de Amaral disse que ainda não foi notificada sobre a denúncia e que o pastor “não teve nenhuma participação direta com os fatos ocorridos” com Letícia. “Inclusive, (Amaral) restou enlutado pelo ocorrido, especialmente pela relação de amizade, carinho e fraternidade que tinham”, disse o comunicado.
Foi pontuado ainda que, por meio de sua “vocação religiosa”, o pastor auxilia pessoas vulneráveis, “mas sem qualquer espécie de imposição ou prática de condutas ‘vexatórias’.”
MP solicitou inquérito
A denúncia das parlamentares destacou ainda que o pastor propaga discurso de ódio ao vincular a orientação sexual e identidade de gênero da comunidade LGBTQIA+ a maldições e abominações. Os fatos, de acordo com elas, configuram prática de crime de transfobia. Já a obrigação do jejum se enquadraria como tortura, conforme apontado no documento.
Em nota, o Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) informou que pediu a instauração de um inquérito à Polícia Civil para investigar a morte e as postagens nas redes sociais do pastor.