
A história de Xica Manicongo, considerada a primeira travesti não indígena do Brasil, ganhou destaque na Marquês de Sapucaí com o desfile da Paraíso do Tuiuti. A escola de samba trouxe o enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?” para o último dia dos desfiles do Grupo Especial do Rio de Janeiro, resgatando a trajetória da personagem histórica.
Quem foi Xica Manicongo?
Nascida no século 16 no Congo, Xica foi trazida ao Brasil como escravizada e viveu em Salvador, onde trabalhava como sapateira na Cidade Baixa. Seu sobrenome, “Manicongo”, era um título usado no Reino do Congo para se referir a líderes e divindades, o que sugere uma posição de importância em sua terra natal.
Xica foi denunciada em 1591 ao Tribunal do Santo Ofício por “crime de sodomia”, acusação feita pelo português Matias Moreira. Entre os “delitos” apontados estavam sua orientação sexual e a forma como se vestia, contrariando as normas impostas pela colônia. Como punição, foi forçada a vestir roupas masculinas e adotar um nome masculino, sob pena de ser queimada viva caso não cumprisse.
Representação no desfile
Quatro mulheres trans e travestis deram vida a Xica Manicongo na avenida. A comissão de frente contou com a dançarina Daniela Raio Black, enquanto a cantora Hud a representou como sacerdotisa quimbanda no Reino do Congo.
No carro alegórico que retratou Salvador, a cantora Pepita personificou Xica na condição de escravizada. Já Bruna Maia surgiu em meio a uma encenação sobre a Inquisição, simbolizando a perseguição que Xica enfrentou. Ao todo, o desfile contou com 28 pessoas trans, conforme a assessoria da escola.
A importância de Xica Manicongo para a comunidade LGBTQIA+ se reflete também fora do Carnaval. Em 2022, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou um projeto de lei para nomear uma via da cidade em sua homenagem. O texto, assinado pela então vereadora Érika Hilton (PSOL-SP), destacou que “Xica representa a luta das travestis brasileiras pelo direito à memória e ao reconhecimento”.