Após protestos e ameaças de homofóbicos, Feira do Livro muda local de evento LGBT
A organização da Feira do Livro de Porto Alegre alterou o local do evento “Os livros fora do armário: a literatura orgulhosamente LGBT”, por motivos de segurança, segundo o presidente da Câmara Riograndense do Livro, Marcos Cena. Protestos e ameaças registrados durante a programação do evento estão por trás da decisão.
A atividade inicialmente estava marcada para acontecer neste sábado (11) no Santander Cultural, que sediava a exposição Queermuseu, cancelada em setembro após protestos. Marcos explica que a programação foi elaborada meses atrás, e a relação entre as temáticas da mesa e da exposição foi considerada. “Aí houve a suspensão da exposição. Quando começaram as ameaças, identificamos que seria no Santander”, aponta.
As ameaças aconteceram em pelo menos dois eventos que abordaram temáticas feministas, conforme o relato de Cena. Elle diz que há pessoas que vão até os locais para intimidar os participantes. “Um entra e fica filmando e o outro faz provocações”, descreve. O objetivo, de acordo com o presidente da entidade, é interromper as atividades. Os manifestantes foram convidados a se retirar pela segurança do evento.
Relatos e fotos das intervenções dos manifestantes nos eventos referidos por Cena circulam na internet.
“Não consigo colocar a minha segurança lá”, diz Cena, explicando que somente a equipe do próprio Santander Cultural pode atuar nos eventos. Por isso, a mesa foi transferida para o Auditório Barbosa Lessa, no Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo. Ambos os locais ficam no Centro de Porto Alegre.
No novo local, Marcos pode colocar a segurança da própria feira, que será orientada sobre como proceder. A medida visa garantir que o evento não seja interrompido, segundo ele.
“Se alguém estiver incomodando ou atrapalhando o evento, vamos pedir para se retirar”, informa ele. “Meu interesse é que o evento aconteça e que seja proveitoso”, aponta Cena. Presidente da Câmara há quatro anos, ele que nunca havia se deparado com manifestações como as deste ano.
MBL incentivando homofobia
Relatos atribuem os protestos da Feira do Livro ao Movimento Brasil Livre (MBL). Mas a coordenadora do MBL no Rio Grande do Sul, Paula Cassol, nega a relação. “Ninguém do MBL foi à Feira do Livro protestar”, resumiu a coordenadora em entrevista a TV Globo.
Em setembro, o movimento foi um dos que liderou os ataques homofóbicos à exposição Queermuseu, que acabou sendo cancelada após os protestos.
‘Silenciar é o primeiro passo, para depois apagar’
Os escritores Samir Machado de Machado e Natália Borges Polesso debaterão os livros de temática LGBT na programação da Feira. Em entrevista, Machado afirma que tomou conhecimento das manifestações ocorridas nos eventos, e não chegou a receber nenhuma ameaça direta.
Segundo ele, o evento é importante, porque propicia o debate, a troca de ideias e a visibilidade do tema. “Compartilhar historias é o que cria o senso de comunidade”, diz ele.
Natália Borges Polesso é autora de “Amora”, livro de contos vencedor do prêmio Jabuti da categoria, no ano passado. Samir Machado de Machado publicou títulos como “Homens elegantes” e “Quatro soldados”.
O evento “Os livros fora do armário” será realizado neste sábado (11), às 18h, no auditório Barbosa Lessa, no Centro Cultural CEEE Erico Veríssimo.