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Gouine é o termo francês usado para se referir às lésbicas e foi adotado para classificar homens que se relacionam com outros homens, mas não gostam de penetração -ou, simplesmente, gouinage.
No mundo LGBT, há os que se dizem passivos (têm prazer ao serem penetrados), os ativos (que curtem penetrar) e os versáteis (que praticam os dois papéis na cama). Mais recentemente, tem surgido nas redes sociais e nos aplicativos de “pegação” um grupo de gays e bissexuais masculinos que se autodenomina de “gouine”.
O termo, em francês, é usado para se referir às lésbicas e foi adotado para classificar homens que se relacionam com outros homens, mas não gostam de sexo anal –ou, simplesmente, “gouinage”.
Desde o final da década passada, a prática vem sendo abordada em reportagens publicadas por revistas de temática LGBT na Europa. No Brasil, os primeiros grupos de “gouines” começam a se formar. Um deles está no Facebook, o Gouinage SP, que foi criado recentemente pelo autônomo Sergio Akio, 40. O espaço virtual serve para quem curte esse tipo de relação sexual conhecer seus pares.
Segundo Akio, há dificuldade para encontrar “gouines”. “Não é um movimento, uma coisa passageira. A gente nasce assim. Muitos fazem, mas não dão esse nome, nem o conhecem”, diz. “Sempre me senti ‘gouine’, desde menino. Por isso, até hoje, não tenho muitas relações”.
Ao buscar referências na internet, quem sente o mesmo desejo de transar sem que haja penetração acaba trombando com a expressão francesa. Foi o caso de Akio. “Na época das comunidades do Orkut, eu procurava pelas páginas de sexo sem penetração. Achei uma e, nela, alguém postou algo com a palavra ‘gouinage’. Fui atrás”, conta ele.
E como os “gouines” se soltam sob os lençóis? O sexo oral é uma das práticas. Tem também o “frottage” (fricção em francês) ou a “guerra de espadas”.
Heterossexuais podem aderir
Apesar de a prática estar mais associada a gays e bissexuais masculinos, heterossexuais também podem se sentir bem transando sem que tenha penetração, diz o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. E não tem nada de patológico. “Mesmo entre heterossexuais, essa prática pode ser adotada, não o tempo todo, mas durante parte da vida sexual de um casal”.
A também psiquiatra Carmita Abdo, do ProSex (Programa de Estudos em Sexualidade da mesma instituição paulistana), complementa: “Estudos populacionais que tenho coordenado sobre o comportamento sexual do brasileiro revelam que cerca de 20% das relações sexuais não têm penetração por diversas razões, inclusive por dificuldade de ereção ou de relaxamento da vagina. Mas também por opção”.
Em outras palavras, nem todo mundo, seja hétero, homo, bi e afins, sente tesão em ser penetrado. “Já me senti discriminado por não gostar. Muitas vezes, saí do motel ou de um encontro sem fazer nada”, diz Sergio Akio. De acordo com Carmita Abdo, pessoas têm sensações e preferências diferentes –o anal, muitas vezes, não está entre elas. “Não há regra para o prazer”.
“Sexo não é só penetrar, seja em que orifício for. É muito mais do que isso. Envolve a realização e o prazer consensual entre os praticantes. A penetração é uma possibilidade dentre várias”, explica Saadeh. Segundo o especialista, a masturbação conjunta ou trocada, sexo oral, uso de toques e da língua no corpo como podem, além de ser estimulantes, levar ao orgasmo.
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Segundo Carmita Abdo, não é exatamente ou exclusivamente a penetração o que define quem domina e quem é dominado.
Quem é ativo, quem é passivo?
O psiquiatra Alexandre Saadeh explica que há homens, e também mulheres, que têm facilidade enorme em serem penetrados e gostam disso. “Ainda assim, sua postura na cama é de dominação. Não são eles os passivos, mas, sim, quem penetra, que acaba assumindo esse papel frente à postura ativa do parceiro”.
Segundo Carmita Abdo, não é exatamente ou exclusivamente a penetração o que define quem domina e quem é dominado. “Numa relação sexual, esses papéis, geralmente, se alternam, mesmo que os parceiros não estejam preocupados com isso: ora um domina, ora o outro”.
Para Saadeh, sempre existirá alguém mais ativo/dominador e alguém mais passivo/dominado, mesmo que seja transitório, que implique versatilidade da dupla.
“Existem casais homossexuais em que os dois penetram e são penetrados, com troca de papéis, dependendo da vontade de ambos. No caso do “gouinage”, também haverá um mais dominador e outro mais dominado, mas isso pode variar”, fala.
“Igualdade na cama existiria para quem? Por quê? É um mito acreditar nessa política de igualdade sexual. Cada um gosta do que quiser e na hora que quiser. Tem de ser democrático, mas não igualitário”, diz ele.
O risco de doenças sexualmente transmissíveis, as DSTs, é menor entre os “gouines”, mas ainda persiste. Isso porque sexo oral, masturbação e carícias diminuem o contato das mucosas com as secreções sexuais, mas não totalmente. “A pele machucada pode se contaminar, assim como a mucosa”, alerta Carmita. Camisinha, portanto, é essencial, mesmo sem penetração.