
A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) deflagrou, nas primeiras horas desta terça-feira, uma operação para desarticular uma associação criminosa que utilizava aplicativos de relacionamento, como o Grindr, para atrair, roubar e extorquir homens — em especial gays. O grupo, autointitulado “Bonde dos galãs”, usava perfis falsos em plataformas para aplicar os golpes.
Coordenada pela 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia), a ação cumpre 20 mandados de busca e apreensão e oito mandados de prisão temporária, revelando um esquema criminoso que atuava de forma planejada e com divisão clara de tarefas entre os integrantes.
Modus operandi: sedução, emboscada e violência
As investigações apontaram que o grupo atraía vítimas de diversas regiões do DF e do Entorno — incluindo Lago Sul, Cruzeiro, Guará, Águas Claras, Taguatinga, Ceilândia, Recanto das Emas e Santa Maria — por meio de perfis falsos em aplicativos de paquera.
Após o primeiro contato, os criminosos marcavam encontros em áreas isoladas e mal iluminadas, especialmente nas quadras 423 e 425 de Samambaia. No local combinado, as vítimas eram abordadas por dois ou três criminosos armados. Mediante violência física — com socos e coronhadas — e intimidação psicológica, os homens eram levados para locais afastados, onde eram obrigados a entregar celulares, pertences e a realizar transferências bancárias.
Em casos em que as vítimas possuíam saldos bancários mais altos, os criminosos as mantinham sob cárcere durante toda a madrugada para contornar os limites de transações noturnas e esvaziar completamente as contas nas primeiras horas do dia seguinte.
Crimes em série e ameaça às vítimas
Além dos roubos e extorsões, a PCDF identificou que veículos tomados das vítimas foram usados em outros crimes antes de serem abandonados. As vítimas também relataram terem sido ameaçadas para não denunciar os crimes, o que pode ter contribuído para a subnotificação dos casos.
Entre novembro de 2024 e junho de 2025, ao menos 36 ocorrências foram oficialmente registradas. Contudo, a Polícia acredita que o número real de vítimas seja superior, devido ao medo, constrangimento e estigmas sociaisenfrentados por muitos dos alvos.
Organização criminosa estruturada
A investigação revelou que o grupo era bem organizado: alguns membros eram responsáveis pela atração das vítimas, enquanto outros atuavam na execução dos assaltos e uma terceira parcela cuidava do recebimento de dinheiro e objetos roubados.
Os suspeitos detidos responderão por organização criminosa, extorsão qualificada e roubo agravado — crimes cujas penas podem ultrapassar 20 anos de prisão, especialmente por envolverem uso de arma de fogo e restrição de liberdade das vítimas.
A PCDF segue com diligências em andamento para identificar outras vítimas e eventuais cúmplices. A Polícia orienta que qualquer pessoa que tenha sido alvo de crime semelhante procure a delegacia mais próxima ou denuncie de forma anônima.