O futebol deu nesta sexta-feira um passo importante na luta contra o preconceito no esporte. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) julgará o Paysandu na próxima quarta-feira, às 15 horas, por desordem e homofobia após o empate por 1 a 1 com o Luverdense, pela 11ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. Além do time, o árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima pode ser afastado dos gramados por não relatar o fato na súmula da partida.
A Procuradoria precisou de imagens da TV Liberal, afiliada da Rede Globo no Pará, para abrir o processo. De acordo com a acusação, integrantes da torcida organizada do Paysandu, Terror Bicolor, agrediram membros da Banda Alma Celeste em forma de represália pelo recentemente posicionamento em prol dos direitos LGBT. Em maio, a torcida aboliu o grito de “bicha” e passou a estender a bandeira do Orgulho LGBT na arquibancada.
O Paysandu foi enquadrado no artigo 213, inciso I, parágrafo 1º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), por não garantir a prevenção ou repressão das desordens. Para a Procuradoria “restou evidente, que o tumulto, a desordem, a briga generalizada, trouxerem riscos a integridade física de torcedores em geral, inclusive verdadeiros torcedores e que nada tem a ver com as práticas delituosas constatadas”.
Pelas desordens, o clube pode ser multado entre R$ 100 e R$ 100 mil e punido com perda de até 10 mandos de campo. Ainda há o agravante do Artigo 243-G, que abrange ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, o que soma a multa entre R$ 100 ou R$ 100 mil.
INÉDITO
O Paysandu é o primeiro clube denunciado por homofobia no Brasil. Em 2014 um inquérito foi aberto no STJD para investigar supostas ofensas cometidas entre Corinthians e São Paulo, mas o caso acabou arquivado. No clube paraense o departamento jurídico garante que tomou todas as providências durante a partida, mas a confusão aconteceu 15 minutos após o encerramento do jogo e que não tem como afirmar se houve um ato de homofobia.
Há uma semana, o então presidente do Paysandu, Sérgio Serra, entregou sua carta de renúncia ao conselho pois, de acordo com ele, foi agredido por dois homens armados e teve sua família ameaçada por membros de torcida organizada. Reflexo: nove jogos sem vencer, com apenas 14 pontos e brigando contra a zona de rebaixamento.