“Na verdade eu fui contra um kit feito pelo então ministro da Educação Haddad, em 2009 pra 2010, onde chegaria nas escolas um conjunto de livros, cartazes e filmes onde passariam crianças se acariciando e meninos se beijando”.
O chamado “kit gay” fazia parte do projeto ‘Escola sem Homofobia’, que, por sua vez, estava dentro do programa ‘Brasil sem Homofobia’, do governo federal, em 2004. Ele era voltado à formação de educadores, e não tinha previsão de distribuição do material para alunos. O programa não chegou a ser colocado em prática. A distribuição do material foi suspensa em 2011 pela então presidente Dilma Rousseff.
Elaborado por profissionais de educação, gestores e representantes da sociedade civil, o kit era composto de um caderno, uma série de seis boletins, cartaz, cartas de apresentação para os gestores e educadores e três vídeos. Em agosto, também durante entrevista ao Jornal Nacional, Bolsonaro afirmou que o livro “Aparelho Sexual e Cia” estava dentro do material do programa. A obra do suíço Phillipe Chappuis, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, jamais fez parte do projeto. Tanto o MEC quanto a editora responsável pelo livro negam que a obra tenha sido utilizada em programa escolar. O livro nem sequer foi indicado nas listas oficiais de material didático.
Durante a campanha eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a remoção da internet de vídeos nos quais Bolsonaro falava sobre esse tema, por “gerar desinformação e prejudicar o debate político”.
O presidente eleito ainda mente quando afirma que tudo foi feito em um semanário infantil. “E deixo bem claro que isto tudo aconteceu por ocasião, acredite, do 9º Seminário LGBT Infantil na Comissão de Direitos Humanos da Câmara”.
Não ocorreu na Câmara dos Deputados, em novembro de 2010, nenhum evento chamado “9º Seminário LGBT Infantil”. Em maio de 2012, foi organizado no auditório Nereu Ramos, da Câmara, o “9º Seminário LGBT no Congresso Nacional”, um evento realizado anualmente. Naquele ano, foram discutidos os temas “infância e sexualidade”.
Idealizador do seminário, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) escreveu no pedido de autorização para organizar o evento que o objetivo era debater com a sociedade civil e o governo federal “sobre a infância e a adolescência de meninos e meninas que sofrem bullying e violência doméstica por escapar dos papéis de gênero definidos pela sociedade”.
O lema do seminário foi “Todas as infâncias são esperança”. Especialistas em direito, educação, sexualidade, psicologia e cultura participaram do seminário.
Homofóbicos
A jornalista Renata Vasconcellos perguntou o que Bolsonaro diria para quem agride pessoas por conta da orientação sexual ou identidade de gênero. Confira a resposta:
“A agressão contra os semelhantes tem que ser punida na forma da lei e se for por um motivo como esse tem que ter pena agravada. Deixo bem claro: ganhei rótulo por muito tempo de homofóbico. Na verdade, fui contra a um kit feito pelo então ministro da Educação, Haddad, que de 2009 para 2010, onde chegaria nas escolas um conjunto de livros e cartazes e filmes onde passaram crianças se acariciando e meninos se beijando. Não poderia concordar com isso. A forma como ataquei essa questão é que foi um tanto quanto agressiva porque achava que o momento merecia isso. Tivemos em parte sucesso porque no ano seguinte a presidente Dilma, depois de ouvir as bancadas evangélica e católica, resolveu recolher o material. Mas o rótulo ficou em cima de mim. Isso tudo aconteceu por causa do 9º seminário LGBT infantil na Comissão de Direitos Humanos da Câmara onde presente estava o secretário de Alfabetização, André Lazaro. E os senhores podem pegar as imagens no YouTube onde ele dizia que passou discutindo até onde a língua da menina entraria na boca da outra. A essa agressão contra a família e contra a inocência das crianças em sala de aula resultou na minha forma um tanto quanto violenta, concordo, para tentar demover o ministério dessas cartilhas, filmes e cartazes”.