A estreia aconteceu no campeonato asiático, em dezembro deste ano, quando Hannah ajudou a Austrália a conquistar o quinto lugar, garantindo uma vaga em Tóquio 2019, competição em que pode cruzar o caminho do Brasil, também classificado. Antes da transição, Hannah, jogou na seleção masculina do país por 22 vezes, disputando inclusive o Mundial masculino de 2013, na Espanha.
“Raramente é uma decisão consciente tornar-se hiper-masculina para cobrir as inseguranças borbulhando dentro de você. Era uma coisa subconsciente, uma maneira de me proteger, não apenas dos outros, mas meus próprios sentimentos de não ser bom o suficiente, de não ser o que me disseram que eu deveria ser. Passei por cima da minha agressão na quadra e tentei o máximo que pude para ser um dos garotos, o que foi um fracasso sombrio, e sempre tive que ser o melhor a levantar no ginásio”, disse a atleta em texto no site Players Voice.
O Comitê Olímpico Internacional tem suas regras para casos como o da australiana. Atualmente, o COI controla o nível de testosterona em pessoas transexuais e pede 12 meses de terapia hormonal antes de autorizar atletas a competirem. Os primeiros testes de Hannah, contudo, mostraram que o nível do hormônio masculino seguia alto. Em outubro de 2016, Hannah, que tem 1,88m e pesa 100kg, também teve seu pedido negado pela federação de handebol da Austrália.
A autorização da Federação Internacional de Handebol veio no fim do primeiro semestre de 2018. Em abril, ainda antes da oficialização, a atleta, que já jogava entre as mulheres no Melbourne Handball Club, passou a treinar com a seleção feminina da Austrália em preparação para o campeonato asiático. Em sua estreia pelo time, fez quatro gols contra o Cazaquistão em derrota por 32 a 24, em 30 de novembro deste ano. Em seis jogos no torneio, Hannah anotou 23 gols e ajudou a Austrália a se classificar para o Mundial.
“Eu joguei e ignorei meus problemas de gênero por muito tempo e, para ser franca, eu estava uma bagunça. Eu não tinha lidado com os problemas do jeito que deveria e fiquei apavorada com o que estava por vir. Mas estou orgulhosa do que conquistamos”, contou a jogadora.
O handebol não é um esporte popular na Austrália e praticamente não tem apoio governamental. Para jogar o Asiático, as atletas pagaram do próprio bolso. Cada uma investiu cerca de US$ 4 mil para a viagem até o Japão, onde a competição foi jogada. Elas ainda pagaram por seus uniformes.