Carnaval

Pelo segundo ano, bloco LGBT Saymos do Egyto reúne milhares de pessoas no centro do Rio

Com fantasias de faraós, bloco voltado ao público LGBTQI+ também é queridinho pelos héteros.

Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)
Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)
“Antes de começar eu gostaria de pedir para os héteros não arranjarem confusão”, anuncia o DJ antes de soltar o som. O bloco Saymos do Egyto mudou o horário inesperadamente, mas isso não atrapalhou a animação e a vontade de dançar dos foliões. O bloco reuniu uma multidão na Rua do Mercado, no Centro do Rio. Esse é o novo point do público LGBTQI+ na terça-feira de carnaval.

Os organizadores esperavam começar às 18h e estender a festa até a madrugada, mas segundo Glauco von Ness, fundador do bloco, precisaram antecipar o início para que término fosse as 22h, por ordem do Prefeito Marcelo Crivella.

“Se não acontecer nada seguiremos até 2h da manhã, mas começamos mais cedo para terminar mais cedo com medo de repressão da PM”, disse ele.

A mudança de horário não atrapalhou o público, que compareceu em peso embalados por hits pop. O Saymos do Egyto herdou os frequentadores do bloco Viemos do Egyto, que tinha a mesma proposta, mas encerrou suas atividades no Rio.

Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)
Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)

Para Glauco, a única coisa que atrapalhou foi a luz do dia, que ofusca um pouco o brilho dourado das fantasias egípcias que boa parte do público usava.

“Esse é um bloco da noite. Nesse sentido fomos prejudicados, mas não pelo público”, disse.

Esse é um dos blocos que não fazem parte da lista oficial e não recebe nenhum tipo de ajuda da prefeitura. Desfilando pelo segundo ano no carnaval do Rio, o Saymos do Egyto se sustenta através de parcerias com bares e eventos ao longo do ano.

“Para poder bancar isso aqui, tiramos dinheiro do bolso e depois tentamos repor pela venda de bebidas. Não temos lucro nenhum, tudo o que entra é para pagar a estrutura”, disse Raphael Lopes, um dos produtores do evento.

Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)
Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)

O que motiva os organizadores a insistirem no projeto mesmo com a precariedade é o fato do carnaval ser o momento de maior visibilidade.

“Isso é uma forma de resistência, ainda mais com o prefeito tentando impedir que muitos blocos aconteçam. O carnaval é a maior chance que a gente tem para fazer a marca crescer”, disse Raphael.

“A maioria dos blocos barrados pela prefeitura são os LGBTs, se parar pra pensar, isso não é uma coincidência. Juntamos forças para criar um local seguro e divertido para LGBTs e mulheres”, acrescenta ele.

Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)
Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)

Além do público LGBTQI+, muitas mulheres estavam presentes. Dalva Gomes, de 51 anos disse gostar desse bloco porque não tem brigas. Ela também estava presente na edição do ano passado.

“Só tem brigas onde tem muitos homens (heterossexuais)”, disse ela.

Muitas mulheres também procuram por blocos LGBTQI+ para fugir de possíveis assédios.

“Eu prefiro esse tipo de lugar pra me divertir com meus amigos gays. Aqui as pessoas são mais respeitosas umas com as outras, por isso eu me sinto mais confortável”, disse Myckaella Alonso, de 18 anos.

Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)
Bloco Saymos do Egyto no Centro do Rio. (Foto: Marcelo de Jesus)

O que diz a Prefeitura

A Prefeitura, por meio da Riotur, negou que o bloco tenha sido barrado por ser LGBT, e informou que o Saymos do Egyto sequer solicitou permissão para fazer parte do calendário oficial do carnaval de rua da cidade em 2019. A instituição também ressaltou que todos os blocos oficiais terminam às 22h por conta dos efetivos de trabalhadores necessários para viabilizar o desfile — garis, guardas municipais e PMs, por exemplo.

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