Artistas de Fortaleza estão acusando o Banco do Nordeste de censura após a retirada de uma faixa com mensagem que fazia referência ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. A faixa, que fazia parte de uma exposição, estava colocada na frente do prédio do Centro Cultural e foi removida por ordem de funcionários do banco.
A exposição “O que pode um casamento (gay)?” acontecia junto a uma série de performances de autoria dos artistas que decidiram transformar o próprio casamento em uma obra. Entre os trabalhos, havia uma faixa que dizia “Em terra de homofóbicos casamento gay é arte”. O material foi instalado na fachada do centro cultural e foi retirado sem o consentimento dos autores e da curadoria do evento.
A obra, de autoria dos artistas Eduardo Bruno e Waldírio Castro, foi selecionada na mostra da 70ª edição do Salão de Abril, considerado o maior salão de artes do Ceará, promovido pela Prefeitura de Fortaleza.
Segundo Eduardo Bruno, uma funcionária do equipamento havia questionado a instalação da faixa na entrada do espaço e sugeriu que os artistas retirassem o material após a abertura do evento, ocorrida no sábado (26). Bruno se recusou a retirar e relata que uma reunião foi marcada com funcionários do Banco do Nordeste com o objetivo de definir uma solução para o caso.
Antes de o encontro ocorrer, na segunda-feira (27), a faixa já havia sido retirada da fachada. Na tarde desta terça-feira (28), os artistas decidiram remover toda a instalação que ocupava a parte interna do Centro Cultural Banco do Nordeste e acusaram o local de censura.
Um dia após a polêmica, o gerente executivo do Centro Cultural Banco do Nordeste em Fortaleza, Gildomar Marinho, foi afastado do cargo. Ele ainda ocupa o cargo de gerência em outro setor vinculado ao Banco do Nordeste. Marinho foi transferido para gerência da célula de cultura do BNB, que promove eventos patrocinados pelo banco, mas não tem relação com o centro cultural onde ocorreu a exposição.
Por meio de nota, o Banco do Nordeste admitiu que retirou a faixa na entrada do prédio porque, segundo a entidade, estaria “descaracterizando a fachada do prédio e comprometendo sua identidade visual”. Veja abaixo a íntegra da nota do banco.
‘Ato de censura’
“Não faz sentido manter toda a obra em local onde parte dela foi violada. Pra gente, isso é uma violência, um ato de censura”, afirma Eduardo Bruno, que classifica um caso de homofobia. “Eu não consigo ver outra justificativa para isso. Me pergunto se existe outra justificativa”, diz.
Na avaliação do artista, a obra celebra a afetividade entre LGBTs e não continha nenhum conteúdo que justificasse a decisão. “Era uma faixa, na parte de dentro, tinha um beijo gay, que hoje até novela mostra. Não tem discurso de ódio, não tem palavra de baixo calão, não tem pornografia”, afirma.
Curadoria ‘não foi consultada’
Jacqueline Medeiros, curadora do Salão de Abril, afirmou que a retirada da faixa foi uma decisão exclusiva do centro cultural e a mostra não compactua com a atitude. “A curadoria não foi consultada. Na verdade, toda a conversa foi com o artista. A gente só foi comunicado depois que retiraram a faixa”, afirma a pesquisadora em artes. Ela diz que não foi informada pelo Banco do Nordeste o que motivou a decisão.
Em nota, a Secretaria Municipal de Cultural de Fortaleza (Secultfor), que organiza o Salão de Abril, lamentou o ocorrido e disse que já autorizou a curadoria do evento a alocar a obra em outro espaço de exibição. Todo o conteúdo da instalação deverá ocupar a Casa do Barão de Camocim, que também é um dos espaços da mostra.
NOTA BANCO DO NORDESTE
A obra em questão faz parte do 70° Salão de Abril, organizado pela Prefeitura de Fortaleza e pelo Instituto Iracema, evento para o qual o Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza cedeu espaço para algumas exposições. As obras foram selecionadas por curadoria contratada pelo Instituto Iracema.
O Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza não interferiu na exposição do artista, somente discordou da instalação de faixa na entrada do equipamento, afixada próximo à logomarca do centro cultural, descaracterizando a fachada do prédio e comprometendo sua identidade visual.
A informação sobre demissão não procede.