Em 2016, Elliot e eu estávamos casados já fazia algum tempo e começamos a nos questionar sobre nosso futuro como casal. Até então, adorávamos explorar lugares diferentes ao redor do mundo e, naquele momento de nossas vidas, um filho não estava nos planos. Foi durante uma dessas viagens que pensamos pela primeira vez em formar uma família.
Mas, sendo um casal gay, é preciso realmente ser criativo e pensar fora da caixa. Como dois homens poderiam fazer isso? Começamos a pesquisar e tentar entender quais os métodos disponíveis e outras possibilidades, como adoção, mesmo sabendo que o estado de Nebraska, onde moramos, é um dos mais conservadores dos Estados Unidos. Não existem leis que proíbam a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero e, até recentemente, havia algumas restrições para conceder guarda ou adoção a casais do mesmo sexo. Para completar, na época eu ainda estava lidando com as consequências de um período de estresse devido a mudanças na minha vida profissional – no ano anterior, fui demitido da escola católica particular onde lecionava inglês após comunicar que iria me casar com meu namorado.
Por tudo isso, a ideia de ter um bebê era a única coisa que me animava. Um dia, em uma conversa com minha mãe, Cecile, acabei contando dos nossos planos, e ela, animada, respondeu: “Podem contar comigo!”, se oferecendo para ser nossa barriga solidária. No início, achei que fosse brincadeira, mas percebi que ela estava falando sério.
O primeiro passo foi juntar dinheiro para fazer uma FIV (fertilização in vitro), que não é exatamente barata – no nosso caso, gastamos por volta de US$ 40 mil, algo impensável para mim, professor, e meu marido, cabeleireiro. Como Elliot é muito organizado, ele cuidou das economias. Pensamos em pedir ajuda a duas amigas lésbicas, mas, durante uma consulta, a médica sugeriu que existiam outras formas de fazer isso. Eu, meio em tom de brincadeira, mencionei que minha mãe sempre dizia que ficaria muito feliz em carregar nosso bebê. Para minha surpresa, a doutora pediu que eu a levasse até o consultório para fazer alguns testes.
Depois de vários exames – colesterol, sangue, coração, papa nicolau, mamografia e ultrassom –, ficou constatado que minha mãe era muito saudável. Ainda assim, fui super-resistente. Na minha cabeça, não fazia o menor sentido uma mulher de 61 anos encarar isso, mesmo sabendo que ela sempre se cuidou, se alimentou de maneira saudável, praticou exercícios e tudo mais. Segundo a médica, mesmo estando na pós-menopausa, ela já havia tido três gestações bem-sucedidas, o que era sinal de que era capaz de gerar um bebê. Estava decidido.
No início, mantivemos segredo, não falamos nem para a família, nem para os amigos, até porque não sabíamos se daria certo. Acabamos contando apenas para os mais próximos e, surpreendentemente, Lea, a irmã do Elliot, se ofereceu para o que precisássemos. Decidimos então que usaríamos os óvulos dela e o meu esperma, assim nosso bebê teria genes dos dois. Por ser muito jovem – ela tinha 25 anos na época –, Lea era muito fértil e, além disso, já havia engravidado duas outras vezes, ou seja, as chances eram grandes. Também fiz vários exames, meus espermatozóides ficaram congelados por seis meses, para que pudessem ser feitos testes para HIV e outras possíveis doenças, e os resultados foram satisfatórios.
Passado esse período, Lea começou a tomar injeções para estimular sua ovulação. Tivemos 24 óvulos, dos quais 11 receberam meu esperma. Esperamos alguns dias para que os embriões se desenvolvessem, e sete foram fertilizados. No final, três tinham chances de desenvolver um bebê saudável. Era a hora do próximo passo: transferir os embriões para minha mãe, que a esta altura já estava tomando remédios para menstruar novamente. O procedimento foi muito simples e durou no máximo cinco minutos. A partir daí, ficamos muito unidos, nos protegendo mesmo. Apesar de ter sido uma gravidez tranquila, tivemos alguns momentos difíceis. Minha mãe desenvolveu diabetes gestacional e, na 38ª semana, sua pressão subiu muito.
Finalmente, depois de dois anos de preparação intensa, no dia 25 de março deste ano, minha mãe deu à luz, de parto normal, nossa filha, Uma Louise. Ficamos num canto do quarto, porque obviamente queríamos respeitar sua privacidade. Mas, de longe, conseguia ver seu rosto e foi estranho porque ela, que sempre foi muito engraçada e leve, de repente se transformou em uma guerreira, com uma força que eu nunca havia visto. Isso me emocionou tanto que comecei a chorar. Não tinha ideia do tamanho da sua garra.
Quando Uma nasceu e vi seu rostinho, chorei ainda mais. Tudo aquilo que estava apenas na imaginação por tanto tempo, de repente, virou realidade. Nesse sentido, a ciência é uma coisa maravilhosa, pois dá a oportunidade para que todas as pessoas – gays, héteros ou com dificuldades para engravidar – alcancem esse sonho.
Apesar de saber que faríamos tudo novamente, o único momento em que nos sentimos meio desconfortáveis foi quando tivemos a chance de saber e escolher o sexo. Para nós, sempre foi muito mais importante que a criança fosse saudável e não se seria menino ou menina. Hoje, olhando para trás, meu maior conselho para casais gays que queiram formar uma família é: não deixe que o ódio e o preconceito de outras pessoas ganhem espaço na sua vida e nunca tome decisões baseadas no medo. Vá atrás dos seus sonhos e daquilo que te traga felicidade. E sinta-se abençoado, sempre. Porque a Uma na nossa vida é uma bênção, que agradecemos todos os dias.