Comissão da OAB vai apurar post homofóbico de pastor: ‘Podem ir para um clube gay, mas igreja não dá’
André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, apagou mensagem após repercussão. Igreja informou que ‘portas estão abertas para que todas as pessoas participem de nossos cultos’.
A Comissão de Diversidade e Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Minas Gerais informou, nesta sexta-feira (11), que vai apurar o post homofóbico do pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha. Em resposta a um seguidor nas redes sociais, o cantor gospel disse que a igreja não é lugar para pessoas LGBT.
A postagem foi feita na terça-feira (8) e apagada depois da repercussão. Uma pessoa questionou se um casal do mesmo sexo, formado por dois rapazes, deveria ser expulso.
“Entendi. São gays. A igreja tem um princípio bíblico. E a prática homossexual é considerada pecado. Eles podem ir para um clube gay ou coisa assim. Mas, na igreja, não dá. Esta prática não condiz com a vida da igreja. Tem muitos lugares que gays podem viver sem qualquer forma de constrangimento. Mas na igreja é um lugar para quem quer viver princípios bíblicos. Não é sobre expulsar. É sobre entender o lugar de cada um”, respondeu Valadão.
Para a vice-presidente da comissão da OAB, Emilia Viriato, como o pastor atingiu todo um grupo, a fala dele não foi simplesmente uma injúria. Desde junho do ano passado, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), declarações LGBTfóbicas podem ser enquadradas no crime de racismo, que é imprescritível e inafiançável. A pena prevista é de um a três anos, podendo chegar a cinco anos em casos mais graves.
A Igreja Batista da Lagoinha informou que a marca da instituição “é ser bíblica e ter como maior referencial a pessoa de Jesus Cristo, que recebia todas as pessoas sem distinção”. A nota diz ainda que, por conta disso, as portas “estão abertas para que todas as pessoas participem de nossos cultos de pregação das Sagradas Escrituras”.
A reportagem entrou em contato com o pastor André Valadão e com o MPMG, mas não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.
O secretário de formação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), Carlos Magno Fonseca, disse que a fala do pastor André Valadão deve ser repudiada. “Em pleno século XXI, um pastor dizer que tem que excluir os homossexuais vai na contramão da igreja, um espaço de amor, de acolhimento e não de exclusão”, completou.
“Todo cidadão tem o direito de ter sua religião e sua liberdade de expressão sem ser cerceado, tem o direito de ser quem ele quer. Mas você não pode usar da sua crença e da sua mera concepção pessoal para atacar e atingir ninguém, principalmente com os crimes previstos na constituição”, finalizou a advogada Emilia Viriato.
“Ele fala que todos os gays não podem participar. Ele atingiu a coletividade. A comissão vai tomar providências, sim. Nós vamos apurar os fatos, é uma questão de direito. É um ato que ocorreu publicamente em redes sociais e, mesmo tendo sido apagado, mediante análise de tudo isso, vamos fazer um parecer e entrar em contato com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG)”, afirmou a vice-presidente Emilia Viriato.