Candidatos trans tiveram votações expressivas nas eleições 2020 no Brasil
Mais de 70 pessoas LGBT se elegem nas câmaras de vereadores; para especialista, diversidade na representação pode beneficiar toda a sociedade.
Mais de 70 vereadores LGBTQIA+ foram eleitos nas eleições de 2020 no Brasil. A representação de negros e mulheres aumentou e candidatos trans tiveram votações expressivas em um ambiente sempre dominado – até pouco tempo atrás – por homens brancos heterossexuais e cisgêneros.
Até algumas eleições atrás no Brasil, tínhamos como único representante abertamente LGBTQIA+ e que lutava pela causa, o deputado federal Jean Wyllys (PSOL). Já nos últimos 4 anos viemos fazendo progresso com eleições como a do senador Fabiano Contarato (Rede) no ES, da deputada federal Érica Malunguinho (PSOL) em SP e do deputado distrital Fabio Felix (PSOL) no Distrito Federal, isso pra citar apenas alguns exemplos, dentre vários outros pelo país.
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais viu o número de vereadores travestis e transexuais eleitos mais que dobrar. De quase 300 candidaturas monitoradas, 27 foram eleitas. Em 2016, tinham sido oito.
Em São Paulo, Erika Hilton, do PSOL, e Thammy Miranda, do PL, estão entre os vereadores mais votados. Linda Brasil, do PSOL, foi a vereadora mais votada de Aracaju. “É uma forma de fazer com que outras pessoas se sintam inspiradas e que a gente possa contribuir para uma transformação na nossa sociedade”, diz Linda Brasil.
A trans Duda Salabert, do PDT, quebrou o recorde de votos em Belo Horizonte. Foi eleita vereadora com mais de 37 mil votos.
“Então quando Belo Horizonte escolhe uma professora e coloca uma professora no centro da política de BH, como a mais votada, isso é um recado que a cidade dá para os políticos, da importância da educação para transformar a sociedade”, afirma Duda Salabert.
Todas as capitais elegeram vereadoras, e em 16 houve aumento da presença feminina. Em Porto Alegre, as mulheres vão ocupar 30% das cadeiras.
O professor de Direito da FGV-SP Thiago Amparo diz que a diversidade na representação pode beneficiar toda a sociedade.
“As nossas cidades são profundamente desiguais, profundamente violentas, com uma diversidade muito grande dentro das cidades em termos de desigualdade no acesso à educação, à saúde. Então ter uma câmara municipal que tenha pessoas de diferentes origens, de diferentes identidades, de diferentes regiões das cidades, essa câmara possibilita o melhor conhecimento de fato da realidade que ela deve intervir, que ela deve influenciar, por meio de política pública”, afirma.