O ator irlandês Michael Gambon, que interpretou o bruxo Alvo Dumbledore na franquia dos filmes Harry Potter, morreu aos 82 anos nesta quinta-feira (28).
De acordo com a Associated Press (AP), um comunicado da família de Gambon disse que o ator morreu após “um ataque de pneumonia”. “Estamos arrasados em anunciar a perda de Sir Michael Gambon. Amado marido e pai, Michael morreu pacificamente no hospital com sua esposa Anne e seu filho Fergus ao lado de sua cama”, disseram seus familiares.
O papel de Dumbledore foi inicialmente interpretado por outro ator irlandês: Richard Harris. Ele morreu em 2002, após os dois primeiros filmes da franquia – Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001) e Harry Potter e a Câmara Secreta (2002) – terem sido feitos.
Gambon assumiu depois disso, e desempenhou o papel do feiticeiro mais poderoso de todos os tempos nos seis longas-metragens finais da saga, lançados entre 2004 e 2011.
Dumbledore é Gay?
Ao longo dos sete livros de Harry Potter (1997- 2007) que inspiraram a série cinematográfica, não há nenhuma menção explícita que confirme a sexualidade do personagem. Até que, em 2007, a autora do universo mágico, a escritora J.K. Rowling, anunciou que Dumbledore é homossexual.
A informação veio durante uma sessão de autógrafos do último livro da série, Harry Potter e as Relíquias da Morte, segundo informou o G1 na época. Rowling foi questionada por um fã sobre o assunto no evento, realizado no Carnegie Hall de Nova York, nos Estados Unidos.
A autora disse que Dumbledore tinha encontrado o “seu verdadeiro amor” e que ele é gay. De acordo com ela, o diretor da escola de magia Hogwarts era apaixonado por seu adversário, Gellert Grindelwald, a quem tinha derrotado numa antiga batalha entre bruxos do bem e do mal.
Na época, a declaração de Rowling dividiu opiniões: alguns saudaram Dumbledore como um triunfo para a representação LGBTQIA+, mas outros acusaram a escritora de queerbaiting – isto é, de criar uma história que faz a alusão a um romance homoafetivo apenas para captar atenção do público, sem realmente trazer essa representação no conteúdo.
Novas confirmações
Rowling continuou a reiterar a orientação sexual de Dumbledore nos anos seguintes ao evento em Nova York. Em 2015, em resposta a um fã no Twitter que havia dito não conseguir “ver [Dumbledore] dessa maneira”, a escritora respondeu: “Talvez porque os gays simplesmente se pareçam com… pessoas?”.
Conforme o site Entertainment Weekly, em novembro de 2016, numa coletiva de imprensa antes do filme Animais Fantásticos e Onde Habitam, a autora também abordou diretamente a sexualidade de Dumbledore. Ela disse que esse aspecto poderia ser retratado na série cinematográfica de Animais Fantásticos, planejada para ter cinco partes (três já foram lançadas entre 2016 e 2022). A história da saga se passa décadas antes da jornada de Harry Potter, e apresenta Grindelwald nas telonas pela primeira vez.
“Vocês verão Dumbledore como um homem mais jovem e bastante problemático – ele nem sempre foi um sábio… Nós o veremos no período formativo de sua vida”, disse Rowling. “No que diz respeito à sexualidade dele… fiquem de olho nisso.”
Já em extras do DVD e Blu-ray do segundo filme da série, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018), a autora garantiu que o bruxo e Grindelwald haviam tido um “relacionamento amoroso” e “incrivelmente intenso” – ainda que o longa-metragem não tivesse abordado diretamente a sexualidade de Dumbledore.
“Estou menos interessada no lado sexual – embora acredite que haja uma dimensão sexual neste relacionamento – do que no sentido das emoções que eles sentiam um pelo outro”, diz ela no material extra, segundo o site Mashable, “o que, em última análise, é a coisa mais fascinante sobre todas as relações humanas”.
Romance com Grindelwald em Animais Fantásticos
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (2022) finalmente se referiu de forma mais clara ao relacionamento passado de Dumbledore com o aliado que acabou virou seu inimigo. Segundo a revista americana Entertainment Weekly, uma das primeiras cenas do filme retrata um encontro entre o feiticeiro e Grindelwald. Nela, os dois discutem sua amizade de infância e a ascensão do vilão ao poder enquanto tomam uma xícara de chá.
Os personagens apresentam visões bem distintas: Grindelwald quer exterminar todos os trouxas (termo do universo de Rowling que se refere aos não bruxos), enquanto Dumbledore se opõe decididamente a esse posicionamento.
Então, Grindelwald pergunta por que o ex-aliado mudou de ideia. Afinal, diz ele, os dois feiticeiros haviam prometido mudar o mundo juntos. Dumbledore diz que era ingênuo quando mais jovem, e acrescenta: “Eu fui na sua porque estava apaixonado por você”.
J.K. Rowling e transfobia
As acusações de queerbaiting em torno de Dumbledore não são a única controvérsia envolvendo J.K. Rowling e a comunidade LGBTQIA+: a autora também já fez declarações com argumentos usados para justificar a transfobia, a discriminação da comunidade trans.
Em dezembro de 2019, a escritora gerou indignação entre fãs ao apoiar Maya Forstater, uma mulher britânica que havia sida demitida do seu emprego por escrever no Twitter que “homens não podem se tornar mulheres” por uma questão biológica.
“Vista como quiser. Chame-se como quiser. Durma com qualquer adulto que consinta com isso e queira você. Viva sua melhor vida em paz e segurança. Mas tirar mulheres de seus empregos por declarar que sexo [biológico] é real?”, declarou Rowling na época.
Ou seja: para a autora de Harry Potter, sexo biológico é o que realmente determina a identidade de gênero de uma pessoa. Tal argumento invalida as pessoas trans, que não se identificam com o sexo com o qual nasceram.
Em 2020, Rowling também fez uma postagem no Twitter criticando um texto que dizia: “Criando um mundo pós-Covid-19 mais igualitário para as pessoas que menstruam”. A escritora afirmou que a publicação a havia deixado “muito brava”. “‘Pessoas que menstruam’. Tenho certeza de que havia uma palavra para essas pessoas. Alguém me ajude [a lembrar]”, ironizou a autora, indicando que, em sua visão, apenas mulheres cisgênero menstruam.
“Se o sexo não é real, não há atração pelo mesmo sexo”, continuou Rowling na rede social. “Se o sexo não é real, a realidade vivida pelas mulheres globalmente é apagada. Conheço e amo pessoas trans, mas apagar o conceito de sexo remove a capacidade de muitos de discutir suas vidas de maneira significativa. Não é ódio falar a verdade.”